Corpo do artigo
O que é que mexe mais com o orgulho do povo português? As metas orçamentais, invenções tecnológicas capazes de revolucionar o Mundo ou gastronomia portuguesa em rankings internacionais? Correto! Metas orçamentais. Os portugueses são loucos por tudo o que envolve despesa pública. Não, agora a sério, é obviamente a última hipótese. Há poucas coisas a mexer mais com as nossas emoções que falarem da nossa comidinha. Prova disso são as notícias que proliferam nos nossos meios de Comunicação Social sempre que algum estrangeiro se lembra de falar da maravilha do nosso pastel de nata.
Mas esta semana foi diferente. Se Portugal estivesse no Zomato, tínhamos acabado de levar com uma má crítica e dou por mim a geri-la como aqueles donos de snack-bar que respondem ao utilizador @foodie4ever com um "Para a próxima come em casa!!!". Parece que o site TasteAtlas teve a ousadia de inserir iguarias portuguesas na lista das piores do Mundo e nós não estávamos preparados. Com que então estes meninos acham moelas um horror. Moelas! Esse petisco que tanta alegria nos dá quando chega à nossa mesa a borbulhar naquela molhanga de tomate e o que ele contribui para a indústria panificadora nacional, tal é a quantidade de bolinhas de mistura que ensopamos naquilo. Moelas são um prato que nos faz sair para a rua de peito inchado pela quantidade de medalhas de molho que levamos ao peito.
Neste ranking, estes meninos do TasteAtlas colocaram-nos ao mesmo nível de pratos como um hambúrguer americano que, em vez de duas fatias de pão, usa dois círculos de ramen frito e o blodplatter, um prato sueco, que nada mais é que uma panqueca com sangue de rena. Eu sou pouco esquisita com comida e pratos com entranhas de animais conquistam sempre o meu coração, mas neste caso eu preferia comer uma tablete de pladur.
O meu conselho é: não podemos dar demasiado valor a estas listas. Prova disso é que, no mesmo site, o Alentejo foi eleito uma das melhores regiões gastronómicas do Mundo, conquistando um incrível 9.o lugar. Atenção, eu concordo. A diversidade de sabores e qualidade dos ingredientes alentejanos é de se lhe tirar o chapéu. A minha reticência reside nas explicações que deram e que foram muito bem apanhadas pelo jornal regional "O Almeirinense". De repente, "O Almeirinense" a fazer melhor trabalho de investigação que a Sandra Felgueiras. Parece que, segundo o mesmo site, o Alentejo é ótimo devido a pratos como sopa da pedra, tortas e queijo de Azeitão e farinha torrada de Sesimbra. A conclusão só pode ser a seguinte: quem fez o artigo foi o snob do namorado da minha melhor amiga que acha que para lá de Almada já é Alentejo e para cima de Lisboa já é província e é tudo a mesma coisa.
Por isso, meus compatriotas, não nos devemos deixar abater por estes resultados. Vamos celebrar os nossos pratos de miudezas de frango porque além de saberem bem, também incentivam sempre a boa disposição à mesa com aquelas larachas humorísticas do costume que envolvem comer miúdos e com a quantidade de trocadilhos que conseguimos fazer com a palavra "pipis".

