A minha resposta é: eu não. Devo acrescentar um ponto prévio que ajuda a explicar a opção: sou adepto do F. C. Porto desde que me lembro de existir e tenho pelo meu clube um profundo amor (a palavra é mesmo esta). Estou entre aqueles que só falham um jogo em casa por manifesta impossibilidade, esteja a equipa a jogar bem ou a jogar mal. Já assisti a um jogo do F. C. Porto aguentando, estoicamente, 12 graus negativos (a minha mulher refugiou-se na casa de banho a fumar cigarro atrás de cigarro, para diminuir a brutalidade do frio...). Não me atreveria a dizer, como Camus, que "o que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol", mas já diria, como Jorge Valdano, que se a razão última de um jogo de futebol é dele tirar prazer, emoção e vida, tal desiderato só se consegue na plenitude mantendo um estreito laço de afeição com o nosso clube do coração. Ora, esse laço não é moldável como a plasticina, porque se funda em razões do coração. E, no final do dia, são estas que nos distinguem.
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Sim, percebo os argumentos dos indiferentes, para quem é igual uma vitória do Benfica ou do Sevilha. Sim, também chego a entender as razões dos cínicos de serviço, segundo os quais devemos puxar pela equipa portuguesa porque ela é... portuguesa. Mas já não percebo os argumentos dos que fingem ser pragmáticos: é bom para a nossa posição no ranking da UEFA, e com isso beneficiam todos os clubes portugueses que vão (ou aspiram ir) às competições europeias. Eu não quero que o meu clube vá às competições europeias por mérito dos outros: quero que chegue lá por mérito próprio.
Há, ainda, o argumento dos contabilistas de circunstância: não convém nada que o Benfica ganhe provas europeias, porque desse modo engrossa os cofres da Luz e torna mais difícil a vida dos concorrentes, todos à míngua de euros. Regresso a Jorge Valdano, parafraseando-o: jogar contra um rival desinteressante é como fazer amor com uma árvore. Eu quero que o meu clube jogue contra equipas fortes, superando-as e superando-se. Acresce que este argumento passa ao lado do óbvio, que a história, de resto, comprova: porque tem a dimensão que tem e porque tem o poder que tem, o Benfica parte (quase) sempre à frente, quando se trata de conseguir encaixe financeiro para os seus projetos. O resto é boa, ou má, ou péssima gestão desportiva.
De modo que, mais logo, quando me sentar no sofá para assistir à final da Liga Europa, não rezarei para que o Benfica erga o caneco. Se o fizesse, estaria a dar razão a todos os que, não sendo benfiquistas, desejam a vitória dos encarnados: trocam as razões do coração pelas razões da contabilidade e do altruísmo bacoco. Ora, nesta coisa da bola, esse é, a meu ver, um crime de lesa-futebol. Esperarei, apenas, que os jogadores benfiquistas e sevilhanos tratem bem a bola durante o jogo, porque sempre foi e sempre será a única forma de tratar bem o espectador.