Com alguma regularidade surgem notícias que dão conta do abandono de idosos nos hospitais. O número de casos não cessa de aumentar, criando problemas de ocupação de camas que poderão vir a ser necessárias para situações mais graves.
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As razões para que tal suceda são variadas. Os vínculos familiares já não são o que eram, tendo o respeito e a responsabilidade para com os idosos vindo a diminuir. Mesmo quando tal não acontece, há muitas famílias em que ambos os cônjuges têm ocupações que os afastam de casa, não tendo condições financeiras, especialmente em tempos de crise, para se poderem dar ao luxo de abdicar de uma das fontes de rendimento para acompanhar os mais velhos. E, mesmo que o pudessem fazer, por vezes o apoio aos idosos requer não apenas carinho mas competências que nem todos possuem.
Outras razões ainda haverá. A multiplicação de casos como os relatados é, porém, sobretudo a evidência de uma clamorosa falha de Estado. A política pública não tem sido capaz de acompanhar as consequências da dinâmica populacional, nem directamente, através de serviços próprios, nem indirectamente, através de apoios ao recurso à oferta privada. A evolução nos cuidados de saúde e a inovação nos fármacos fará, tudo o indica, prolongar, mais ainda, a longevidade, aumentando o número de idosos, em geral, e de pessoas requerendo assistência específica. O que reforçará o desequilíbrio.
Sucede que este tipo de problema tem uma incidência territorial diferenciada. Há regiões no interior do país em que uma elevada proporção da população, quiçá mesmo a maioria, tem mais de 65 anos. São áreas de povoamento escasso, com limitada actividade económica, de onde os mais jovens emigraram, para as cidades ou para outros países. Talvez por isso, fosse por aí que uma eventual intervenção pública devesse começar. Com o Estado assumindo-se como mentor estratégico, responsável por assegurar a resolução do problema. O que não quer dizer que o tenha de fazer isoladamente. Nem sequer que tenha de ser a parte que carreie mais recursos para o empreendimento. Neste domínio há várias empresas, de âmbito nacional, cuja responsabilidade social as deverá tornar disponíveis para serem parceiros em iniciativas como esta. Por exemplo, a EDP, nas zonas em que tem barragens em construção, ou a Caixa, tantos anos captando as poupanças dos emigrantes oriundos dessas regiões sem lhes dar grande coisa em troca. E outros parceiros haverá.
Por serem territórios de povoamento escasso, é possível com um investimento limitado resolver, de facto, o problema. O que poderá ter uma outra vantagem. Passar a dispor de equipamentos que assegurem serviços adequados para a chamada "terceira idade" dá a essas regiões uma vantagem comparativamente a áreas urbanas. Torna-as mais atractivas. Poderá contribuir para trazer de volta alguns que de lá saíram e seduzir outros, promovendo novos investimentos. Os problemas, as dificuldades, são, frequentemente, fonte de oportunidades. A dignidade humana justifica, só por si, uma outra política. Que, como aqui se procurou demonstrar, pode ter efeitos secundários muito positivos. Será por isso que alguns começam a chamá-la a "idade de ouro"?