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Com a primavera, regressa o debate sobre as vantagens e inconvenientes do crescimento turístico. Muitas vezes com argumentos disparatados, quase provincianos. O turismo tem dado um imenso impulso à cidade, à economia e ao emprego. Mas o Porto é mais, bem mais, do que o turismo.
Negar o impacto que o turismo tem na atividade económica e na criação de emprego é não querer reconhecer a evidência. Comparar a realidade do Porto com a de cidades como Barcelona, por exemplo, agitando o já banalizado fantasma da perda de identidade, é de um provincianismo retrógrado. Não consta que os catalães, que estão de momento a tentar forçar um segundo referendo para obterem a independência, sofram, até pelo contrário, de qualquer défice de identidade.
O Porto é uma cidade vibrante, apaixonante e cativante. Cuja promoção nos mercados internacionais é bem feita - mérito da Associação de Turismo do Porto, liderada pela Câmara. Neste início de ano, o crescimento estimado da procura turística andará próximo dos 20 por cento, pelos dados de que disponho.
Ora, esta conjuntura reflete-se, imediata e obrigatoriamente, no dinamismo empresarial e na criação de emprego. Como produz efeitos sobre todo o tecido económico, nos mais diversos setores de atividade, estejam eles mais próximos ou menos próximos dos negócios turísticos puros. Haver mais empresas, a produzirem mais e a empregarem mais pessoas será algo que, até para os menos entendidos, ajudará a compreender porque é que a derrama cobrada no Porto (imposto sobre os lucros das empresas e cuja taxa, por decisão da Câmara, até desceu) cresceu 100 por cento nos últimos quatro anos (passando de 10 para 20 milhões de euros).
Engana-se porém redondamente quem julga que o turismo é o motor, ou o único motor, do crescimento. O Porto lidera o ranking nacional de criação de tecnológicas e startups - 36 por cento destas novas empresas têm sede na cidade -, do mesmo modo que consegue captar investimento internacional direto, atraindo a instalação de empresas como a Euronext, a Nataxis, a Webhelp ou a Bottlebooks. Não admira por isso que o "Financial Times" considere o Porto uma das melhores cidades do sul da Europa para investir. E isto, note-se, não tem nada a ver com turismo. Antes decorre de indicadores de qualidade de vida únicos, de uma universidade que forma talentos, de profissionais altamente capazes, de uma rede eficaz de infraestruturas e de um conjunto de condições que são postas ao dispor dos investidores. Isto tem precisamente a ver com a famosa identidade que os agitadores de fantasmas acham que se está a perder.
*EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO