A comissão independente, liderada pelo psiquiatra Pedro Strecht, concluiu que cerca de 5000 menores sofreram abusos sexuais em instituições ou atividades da Igreja Católica em Portugal. Esta pesquisa sobre pedofilia trouxe à tona o que aconteceu nas sombras da Igreja, que a opinião pública já desconfiava. Não tenho dúvidas que este estudo seja apenas a ponta do iceberg de um fenómeno enraizado que destruiu inúmeras vidas nas últimas décadas.
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Esta comissão foi criada no final de 2021 por decisão da Conferência Episcopal Portuguesa, que seguiu a estratégia de transparência promovida pelo Papa Francisco.
Relembro que não teve o apoio dos 21 bispos portugueses: um deles recusou encontrar-se com os investigadores e outros mostraram sobranceria e incomodidade.
A Santa Sé teve de intervir para ter acesso aos arquivos diocesanos confidenciais.
Foram apresentadas publicamente as conclusões do relatório. Este redimir da Igreja não repara o sofrimento das vítimas, mas, pelo menos, concede-lhe o reconhecimento da dor.
Perante estes factos horripilantes, a Igreja deve assumir os seus erros e tomar medidas firmes para que não aconteçam novamente.
A Igreja é uma instituição antiga, onde se cultiva a cumplicidade, o silêncio e a cultura nociva de abuso de poder.
A Igreja não pode somente assumir os erros, tem de tomar decisões para reparar as vítimas e remover os abusadores que ainda estão no ativo.
Marcelo Rebelo de Sousa, católico devoto, não teve relutância em afirmar que "a Igreja deve afastar quem deve ser afastado para evitar mais vítimas".
Todavia, os abusadores devem ser criminalizados. O direito canónico não devia sobrepor-se ao direito penal.
A Igreja tem excesso de poder e ninguém deve estar acima da lei. Temos de acabar com privilégios de classe. Os padres são cidadãos como qualquer um de nós, não podem cometer um crime e ficar impunes.
A Igreja ignora os sinais que a sociedade lhe está a dar, que exige que se faça justiça.
A Igreja parece que parou no tempo e vive num mundo à parte. É pena, pois cada vez tem menos seguidores e crentes.
A Igreja está doente e precisa de um banho de realidade. Temo que haja um retrocesso se o Papa Francisco abdicar por doença e incapacidade de cumprir a preceito as suas tarefas.
*Fundador do Clube dos Pensadores