Um dos momentos fortes que ficarão comigo neste Natal será o das filas para a testagem e o número avassalador de autotestes vendidos nas farmácias. Significa isso que estamos mais conscientes de que a prevenção constituirá sempre o nosso melhor escudo protetor, mas também exprime o cuidado que temos com os outros, sobretudo com aqueles que nos são mais próximos.
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Outra memória que guardarei deste tempo estranho será relativa às inúmeras reuniões do grupo a que foi pedida uma estratégia para desconfinar o país e agora uma proposta para retomar medidas de restrição. Sem nunca ter estado uns com os outros em modo presencial, este conjunto de especialistas, coordenado por Raquel Duarte, do qual também faço parte, teve uma preocupação que nunca largou ao longo de todo o ano: trabalhar em prol da saúde pública para que todos regressemos o mais depressa possível a um quotidiano mais livre de constrangimentos. Fizemos isso de forma empenhada, graciosa e voluntária, ainda que muitas vezes mais parecesse um trabalho a tempo inteiro, dada a responsabilidade e a complexidade da tarefa que tínhamos em mãos.
Por estes dias, também retenho os telefonemas dos amigos, daqueles com quem deixei de estar, mas que continuam onde sempre estiveram: nos afetos que nos atam uns aos outros em cumplicidades que o tempo não esmorece. Enquanto escrevo esta crónica, uma amiga diz-me ao telefone que alguém lhe ligou a perguntar por mim. Deixou de me ver nos locais habituais. Esses cuidados são sempre as melhores prendas que podemos receber nesta quadra. Porque não se compram em lado nenhum. Oferecem-se em generosidade.
Nesta quadra, os mais pequeninos também costumam dar-me importantes lições. E este ano isso surgiu de forma arrebatadora. Há uma semana, levei o meu filho a tomar a vacina anticovid. O acaso juntou no mesmo sítio meia dúzia de colegas da mesma turma e, a par da alegria que as crianças manifestavam, aquilo que mais me tocou foi a solidariedade de uns em relação aos outros perante o medo que adivinhavam que iria surgir no momento da inoculação. E ali estava o grupo em frente àquele que ia ser vacinado para transmitir a confiança necessária. E isso foi mesmo muito comovente.
Este não é o Natal que pensaríamos ter este ano. Mas, apesar de tudo, é Natal. Um tempo de renovar a esperança num futuro melhor e de formular desejos que queremos ver cumpridos. O que aqui deixo é este: saúde para todos. Há muito que sentimos que este voto não é mais um lugar-comum.
*Prof. Associada com Agregação da UMinho