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Não há relação conhecida e comprovada entre imigração e segurança, particularmente em Portugal. Só no discurso da extrema-direita se faz, sistematicamente, essa associação. Os dados das autoridades de segurança e as intervenções dos empresários dizem-nos duas coisas. Primeiro, que Portugal é um país que necessita de acolher imigrantes, mais imigrantes. Segundo, que Portugal continua a ser um dos países mais seguros do Mundo, no qual ao aumento da imigração não correspondeu um aumento da criminalidade.
Sim, temos problemas com a integração de determinados segmentos de migrantes e precisamos de melhorar as políticas de acolhimento, de apoio à chegada, de integração social e profissional. Precisamos de mais fiscalização das ilegalidades e abusos no trabalho, de mais formação de mediadores, de mais integração de crianças e jovens no sistema de educação e de mais ensino da língua. Sim, temos problemas de segurança, crimes, desacatos e rixas, independentemente da nacionalidade ou do país em que nasceram as pessoas que os cometem. Precisamos, em muitos locais, de ter mais polícia de proximidade, que circule nas ruas, que conheça e se faça conhecer pelas pessoas.
No mesmo domingo em que aconteceu uma rixa na Rua do Benformoso entre estrangeiros, aconteceu outra num bar da Madeira que envolveu tripulantes da TAP, em que até foram agredidos polícias. A primeira nada nos diz sobre a generalidade dos estrangeiros que habitam a rua e a segunda nada nos diz sobre a generalidade dos tripulantes da TAP. A primeira foi notícia em todos os telejornais, deu lugar a conferência de imprensa pela polícia, da segunda ninguém tomou conhecimento. Porquê? Porque na primeira entravam imigrantes?
Esta é a novidade que temos nos últimos meses, porque o primeiro-ministro decidiu, aproximando-se dos temas da extrema-direita, afirmar e reafirmar que existe uma relação entre imigração e segurança nas perceções públicas. Para criar ambientes de segurança, argumentou, era necessário dar visibilidade a ações de segurança espetaculares.
Estou convencida que o primeiro-ministro está a cometer um erro grave, que até lhe pode permitir conquistar votos, mas que terá consequências muito negativas para o país, desde logo reputacionais. De país seguro passaremos a ser vistos como país inseguro. De país que confia nas forças de segurança, para um país com medo. De país acolhedor, para país que faz demonstrações de força com os estrangeiros, sobretudo quando não são ricos.