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Na perspetiva dos imigrantes, descontando os muitos constrangimentos que enfrentam para regularizar a situação no nosso país, talvez Luís Montenegro tenha razão ao afirmar que “Portugal está bem e recomenda-se”. À semelhança dos milhares de portugueses que procuraram salários dignos em países com França, África do Sul, Brasil ou Estados Unidos, nas décadas de 1960 e 1970, também estes trabalhadores deixam a pátria em busca de melhores condições de vida ou para fugir a conflitos sangrentos, decisão semelhante à dos nossos compatriotas, que também se debatiam com a ameaça de a qualquer momento serem confrontados com a obrigação de terem de combater na guerra do Ultramar. Este cruzamento em termos de contexto devia chegar para termos todo o cuidado e respeito com os imigrantes, mas nem sempre acontece, sobretudo por irresponsabilidade da extrema-direita, que não perde uma oportunidade para apoucar e atirar argumentos mais ou menos absurdos quando a discussão incide sobre a comunidade estrangeira, associando-a, por exemplo, à criminalidade. Acontece quase sempre, voltou a suceder quando no início da semana ficámos a saber que o país tem 1,6 milhões de imigrantes. É a história do copo meio cheio ou meio vazio. Quem quiser ser sério, percebe que este número, surpreendentemente elevado, conjugado com o facto de praticamente não existir desemprego, significa que o país não só não pode crescer sem imigrantes como, seguramente, até precisa de mais. Dramático seria Portugal, de repente, transformar-se num destino pouco atrativo para trabalhadores externos, porque só acontecerá se o desemprego subir ou a economia definhar.