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1. De um momento para o outro, “descobriu-se” que vários governantes, a começar pelo primeiro-ministro, são sócios de empresas que têm as operações imobiliárias no seu objeto social. Caraterística que, pelos vistos, os une a vários deputados do Chega, também eles com as suas empresas imobiliárias.
O clamor do escândalo surge porque estão a ser analisadas alterações à designada “lei dos solos”, que vai permitir urbanizar terrenos onde, atualmente, os PDM e a lei o proíbem, para a construção de habitação. Ou seja, para negócios imobiliários. É evidente que esta situação, com governantes e deputados tão envolvidos na aprovação desta lei e que, potencialmente, dela podem tirar vantagens, é inadmissível. Mas o problema é ainda mais fundo: não deixa de ser significativo que tantos detentores de cargos públicos, eleitos pela direita, apostem tanto nos negócios imobiliários. O que os faz ser um poderoso lóbi a favor de ações que, rejeitando o combate à especulação imobiliária, favorecem mais e mais construção, sem que isso leve à redução dos preços da habitação - um direito inacessível a tantos portugueses. Por isso, também já não me choca que um ex-vereador da Câmara Municipal do Porto, militante da IL mas “independente” eleito pelo Movimento de Rui Moreira, tenha passado diretamente da autarquia para… uma empresa imobiliária.
2. Pedro Duarte, ministro dos Assuntos Parlamentares, em recente entrevista, afirmou que ”a cadeira de presidente da Câmara do Porto é a minha cadeira de sonho”. A sua candidatura a essa “cadeira” é um dos segredos mais mal guardados do panorama político nacional. Mas não posso deixar de recordar que, em 2017, Pedro Duarte encabeçou as listas do PSD à Assembleia Municipal do Porto e, não tendo ganhado, renunciou de imediato ao mandato. Ou seja, a ambição é a “cadeira” e não servir a cidade e a sua população.
3. O ministro Pinto Luz veio esta semana ao Porto anunciar mais uma série de intenções. Nenhum jornalista questionou o seu silêncio sobre os atrasos que se registam nas várias obras da empresa Metro do Porto, que tutela. É um ensurdecedor silêncio perante tamanha vergonha. O que torna ainda mais inadmissível a omissão dos jornalistas.