Os Estados Unidos da América, com a maior dívida soberana do planeta, poderão entrar em incumprimento no próximo dia 2 de Agosto se o Congresso não autorizar o presidente Obama a mandar imprimir os dólares que lhe faltam para pagar o que for devido. O risco é ínfimo mas não deixa ninguém indiferente, desde logo, porque o prazo é muito curto. Depois, porque a oposição republicana que detém a maioria parlamentar vem rejeitando com cega obstinação qualquer acordo para alargar os limites do endividamento, e preconiza cortes nos programas sociais que inviabilizariam as políticas do Governo Federal ao mesmo tempo que recusa a supressão dos benefícios fiscais criados pelo anterior presidente a favor dos mais ricos, contraproposta pelos democratas. Mas caso essa remota possibilidade se concretizasse, seria tal o descalabro que muitos dos que agora se indignam contra o chamado "oligopólio americano" das agências de notação, emudeceriam sob o fragor da catástrofe. Por isso, ao contrário da Irlanda, que acaba de resvalar para o caixote do lixo, e da Itália, que desbarata alegremente o que sobra da sua credibilidade, a maior dívida soberana do Mundo mantém, apesar do impasse, a nota máxima.
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Outro, é o impasse europeu, associado à secundarização da Comissão em benefício do Conselho, dos líderes nacionais mais poderosos, das suas conveniências e preconceitos. A ideologia "desreguladora" de Reagan e de Thatcher, que desde o princípio dos anos 80 domina o pensamento económico, atingiu o seu pico de glória com a implosão da União Soviética. Desde então entrou em decadência e sofreu o golpe de misericórdia com a crise financeira de 2007/08. Porém, face à incapacidade de construção de uma alternativa doutrinal da "esquerda" - perdida nas malogradas experiências da "terceira via"- sobrevive sob a forma de "preconceito" nas maiorias conservadoras que continuam a ganhar eleições na Europa, amparadas pela onda populista do neoparoquialismo xenófobo... ou pelo medo que ela inspira. Por isso, apesar dos progressos substanciais que a governação económica europeia alcançou nos últimos meses, a indecisão política continua a marcar este federalismo incipiente e relutante que teima em discutir a prevenção de um imaginário "perigo de contágio" em vez de tratar a doença sistémica que já lhe arruína o corpo.
Embora sob o signo da urgência, outro impasse domina cá dentro. Primeiro, instalou-se a urgência de interromper a anterior legislatura seguida da urgência de convocar novas eleições. Depois, veio a urgência de formar novo Governo. A urgência de voar para Bruxelas. A urgência de anunciar novas medidas e o receio, enfim, de que as medidas se possam revelar insuficientes...
Os cortes na despesa, para já, continuam a aguardar. Uma nova redução de salários realizou-se pela via do aumento da receita, com a criação do imposto extraordinário sobre o 13.º mês que duplicou a penalização dos que já tinham sofrido os cortes aprovados pelo Governo anterior. Por seu lado, a redução da taxa social única, para não comprometer a sustentabilidade da Segurança Social, terá de ser compensada com mais receita fiscal, agora, com novo aumento do IVA. Acabaram com os governadores civis o que, para além da sua importância simbólica, foi uma decisão reconhecida como justa e oportuna. Mas não se sabe quando acabarão os distritos, não se conhece a grelha territorial que vai enquadrar a distribuição dessas competências nem que papel se reserva à instância regional na reestruturação inevitável. Ora, a extinção dos governadores civis representa, por si só, uma fraca poupança e se a reforma administrativa não souber conjugar os imperativos da eficiência económica e da racionalização dos recursos com a descentralização das competências e o reforço das responsabilidades inerentes, bem poderemos contar mais uma oportunidade perdida para a reforma do Estado e a redução sustentável do défice. É certo que o novo Governo conta apenas três semanas, mas o "impasse" persiste há quatro meses e o futuro, incerto.