Corpo do artigo
Sei que já passou quase um mês mas não me larga o sentimento de impasse que me assolou ao ouvir as intervenções no dia 25 de Abril.
Marcelo Rebelo de Sousa a assumir que a celebração lhe parecia repetitiva, mas de tão importante tinha de ser realizada. Sem ideias para alterar seja o que for.
Ferro Rodrigues, seguramente mal aconselhado, apelou a uma transparência e a um rigor que tinham sido dolorosamente postos a nu, julgo que na véspera, pela exposição do recibo de vencimento de um deputado da nação.
Mas afinal não pode o presidente da AR tomar a iniciativa de resolver o problema? Ambos os presidentes, aliás, andam há mais de 44 anos na política. Porque apelam a tudo e a todos em vez de resolverem?
Mas o impasse ainda se tornou mais evidente e preocupante quando o presidente da Assembleia não resistiu a elogiar Marcelo, cuja popularidade não se pode dispensar, para em seguida o próprio o esclarecer que não vai ser essa popularidade que o vai obrigar a resolver tudo o que for difícil...
Os mais novos, que desta vez estiveram em força e em moderno modo feminino, já têm os tiques dos mais antigos, ou seja, subsumem-se no diagnóstico e no clamor por justiça sem explicarem com clareza o que fariam e como fariam.
Com tristeza sei que os verei daqui a uns anos mais redondos no discurso, provavelmente ausentes na ação concreta e seguramente mais tristes.
Os modelos clássicos desta nossa corrida democrática estão igualmente num impasse com a agravante de se acotovelarem todos na "pole position".
O PCP não tem força para sair, o BE fica à força, o PSD quer entrar pela porta do "interesse nacional" e o CDS pela ranhura do que o PSD vier a abrir. O PS já lá está e mantém, de charneira em charneira, todos os outros na linha.
Fico-me a ver se outros protagonistas, mais longe dos tapetes do hemiciclo, se revelam mais frescos, mais contundentes e mais eficazes.
Mas, por outro lado, a nossa atividade cívica tem estado há muitos anos enfiada nos autocarros que o PCP mobiliza para estes grandes momentos.
Com os sindicatos no bolso da "geringonça", a romagem do 1 de Maio parece-se cada vez mais com o piquenique que o Continente costuma organizar no Parque Eduardo VII.
Esperava que resistisse a música de Lopes Graça, mas já passamos ao Tony Carreira.
Marcelo Rebelo de Sousa e Ferro Rodrigues andam há mais de 44 anos na política. Porque apelam a tudo e a todos em vez de resolverem?
ANALISTA FINANCEIRA