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A indiferença caracteriza, em maior ou menor grau, as representações e os comportamentos de muitos de nós, configurando os perfis e os objetivos da nossa existência individual e coletiva. Torna-se inclusive, por vezes, condição do nosso bem-estar…
Vejamos porquê.
Conhecemos a um tal propósito justificações que oscilam entre a exaltação abstrata de valores solidários e um realismo de factos concretos, entre o incómodo da consciência do que moralmente nos transcende e uma realidade que, ultrapassando as capacidades do nosso estrito círculo de intervenção, acaba por nos acomodar: foi sempre assim e assim continuará; sozinhos nada podemos fazer; a responsabilidade é de quem tem o poder…. Constatações que, não deixando de ser verdadeiras, não esgotam todavia aquela que é a própria verdade humana largamente marcada pela força dos interesses.
De facto, como é possível sobrevivermos coexistindo com a pobreza, havendo países e continentes em que o consumismo impera, ditando as regras da procura e da produção? Como é possível ignorarmos a miséria que habita em tantas vidas das nossas cidades e aldeias? Como é possível aceitar que a riqueza seja muitas vezes apanágio, a razão de ser da exploração de pessoas e povos?
Sabemos bem que, para compreender uma cultura ou uma época, temos de procurar as questões que, no contexto de cada uma delas, foram ou são colocadas. Para percebermos o Mundo em que vivemos, temos por isso mesmo e antes de tudo de constatar se, dado o caráter especialmente sensível e incómodo de questões como as recordadas aqui, aceitamos a sua interpelação ou se, não nos deixando ser por elas consequentemente interrogados, escapamos assim de ser os seus autores e, por isso, de sermos responsáveis…
Superando a indiferença, importa que cada um de nós, pela doação solidária individual ou coletiva, pelo cuidado com os outros nas ações profissionais, pelas atitudes quotidianas para com os que mais sofrem, dê uma parte de si ou do que possa sobrar e que quantas vezes arbitrariamente nos pertence pela família e pelo país em que por acaso nascemos.
Trata-se afinal da nossa consciência e, com esta, de um pouco de bondade….
Martin Luther King afirmou um dia: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”.