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O Estado não acredita na responsabilidade dos portugueses. O Estado não acredita na agenda dos portugueses. O Estado não acredita na eficácia dos lembretes de telemóvel dos portugueses. Se acreditasse, não tinha decidido impor o mês de fevereiro como obrigatório para o pagamento do imposto único de circulação (IUC), com a justificação de que, dessa forma, os contribuintes ganham com a previsibilidade, não se esquecem com tanta facilidade e incorrem menos no risco de pagar uma multa por serem uns desmemoriados estruturais.
Vamos acreditar que foi para nosso bem, que o Ministério das Finanças está a agir proativamente. Ou então vamos deixar de ser ingénuos. Teria sido mais honesto reconhecer que, com uma cobrança fixa no início do ano, o Estado encaixa uns largos milhões de euros de receita no arranque do exercício orçamental, o que permite acomodar melhor as despesas ao longo do tempo. E, claro está, dar uma folga maior para acorrer a imprevistos. E isso não teria mal nenhum, uma vez que o pagamento de impostos é das poucas certezas que temos na vida. Escusavam era de nos atirar areia para os olhos. Dispensamos o exercício doutrinário.
Não é de agora que o Estado assumiu o papel de paizinho dos cidadãos, revelando um paternalismo impositivo que tendemos a normalizar, sobretudo quando está em causa a relação dos portugueses com os impostos. A agenda fiscal continua a ser usada pelos governos como um poderoso afrodisíaco político, com o IRS e a devolução que na verdade não é devolução nenhuma à cabeça. Vicissitudes de quem se alimenta com pouco e vê nas migalhas um faustoso banquete.

