Se Portugal fora como o Miles Davis, não me importaria a alegada incrível capacidade de improvisação que habitualmente celebramos.
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No final dos anos 50, Miles estava em Paris de passagem e foi convidado para fazer a banda sonora do filme "L'ascenseur pour l'échafaud". Chegou ao estúdio, pediu que a película fosse projetada e criou um disco fabuloso, praticamente do zero, enquanto olhava para as imagens que surgiam na parede.
Por cá, se os ministros tomassem decisões como Davis tocava trompete, até podia haver improvisação todos os dias. Acontece que na última década o nosso proverbial desenrascanço resultou na venda da EDP, REN e ANA, tudo empresas rentáveis e multimilionárias, ou nos falhanços ainda maiores do BES, BPN, BANIF e TAP. Pressionados, o que se conseguiu improvisar foi o seguinte: perder o que dá lucro e ganhar o que perde dinheiro; aumentar a dívida, a pobreza e a desigualdade; e depois de todas as crises e escândalos judiciais e financeiros, o regime não consegue improvisar um pouco de respeito pelos cidadãos e contribuintes.
Olha-se para Eduardo Cabrita e percebe-se isto tudo. Por favor, parem de improvisar.
*Jornalista