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Se dúvidas houvesse, Carlos César esclareceu-as assim: "Como socialista digo apenas: não acredito que um socialista prefira um Governo de Direita com o apoio do PS, a um Governo do PS com o apoio da Esquerda". Interpretando: o critério para um socialista, um verdadeiro socialista - não os outros, mesmo que filiados no PS, ovacionados em congressos do PS, candidatos em todas as lutas do PS, exercendo ou tendo exercido mandatos em representação do PS, mas (pecado capital), pensando diferente do presidente do PS - é chegar ao poder, liderando.
O PS pode estar mais próximo do PSD e do CDS na partilha de valores democráticos essenciais e na afirmação de todos os compromissos europeus, que PCP e BE rejeitam. Não importa.
Aspeto determinante da redefinição ideológica e programática do Largo do Rato é que o PS, mesmo que derrotado, lidere o projeto governativo e no limite governe sozinho, sob pretexto do suposto apoio parlamentar da extrema-esquerda, "a la carte", num absurdo que relega para os bancos da Oposição quem venceu as eleições.
Tudo é instrumental, perante o fim último de fazer de António Costa primeiro-ministro. O partido vive tempos difíceis e há pessoas, muitas, há demasiado tempo à espera de escolhas, cargos, nomeações, adjudicações. César hoje, como o originário Caio Júlio da antiguidade romana, definiu a nova doutrina com baias. E quem saia delas fica expurgado da pureza que marca os verdadeiros apaniguados.
Acontece que 2011 não foi só um pormenor. A quase bancarrota que grande parte dos atuais dirigentes socialistas, governando tragicamente, legaram, mediu-se igualmente pelos sacrifícios dos que, com o seu esforço até 2015, ajudaram a cumprir com sucesso o ciclo de ajustamento e ao termo dos ditames da troika.
Portugal inteiro compreende, mesmo que em alguns casos não deseje, que PSD e CDS governem. A coligação venceu as eleições. Já o levantamento de rancho parlamentar que António Costa promove, subvertendo a interpretação pacífica dos resultados nas urnas, dividirá irremediavelmente o país, com consequências graves nos mercados e nas ruas.
Limitando-se a afirmar regras consolidadas por 40 anos de história do PS, Francisco Assis, Sérgio Sousa Pinto, José Junqueiro, Álvaro Beleza, João Proença, Mota Andrade, Eurico Brilhante Dias, José Lello (tem dias) e tantos outros, foram marcados de impuros por Carlos César.
Para já conseguiram o respeito da maior parte dos portugueses e dos adversários que prezam razões de princípio. Amanhã no PS, quem sabe ganharão mais.