Corpo do artigo
O vírus do populismo é sempre perigoso e o único antídoto é, na verdade, uma coisa bem simples: rigor. No último Congresso do PSD, Luís Montenegro fez um discurso de candidato a primeiro-ministro. “Até 2028, o rendimento mínimo garantido dos pensionistas portugueses será de 820 euros”, disse perante as câmaras de televisão. As boas novidades, tal como as más, espalham-se depressa. E não demorou muito para que o PSD viesse a terreiro explicar melhor a ideia: em vez de dois milhões de pensionistas, afinal menos de 200 mil beneficiarão de uma medida que apenas se aplicará a quem recebe o complemento solidário para idosos.
Logo após a precipitação de Luís Montenegro, André Ventura avançou com a proposta de não deixar que alguma pensão esteja abaixo do salário mínimo no final da próxima legislatura. Nesse contexto, há quem diga que o PSD e o Chega ultrapassaram o PS pela esquerda. A afirmação é muito discutível, uma vez que em Portugal tanto o PS como o PSD são partidos sociais-democratas. E o que significa isso em concreto? Ambos os partidos defendem a proteção dos direitos sociais, a promoção da igualdade e o fortalecimento dos serviços do Estado em áreas tão fundamentais como a Segurança Social, a Educação e a Saúde. Claro que depois diferem nos meios exatos para atingir aqueles objetivos e tudo depende da conjuntura. O PSD tende a um mix entre público e privado, apreciando a complementaridade. O PS é mais estatizante, mesmo quando os privados dão provas de que gerem melhor a coisa pública. O corte nas pensões mais elevadas durante a troika brotou de um fundamento ideológico do PSD ou de uma falência do Estado precipitada anteriormente pelo PS?
Em conclusão, aumentar parte dos pensionistas não é algo de incoerente com os fundamentos dos sociais-democratas, sejam eles rosa ou laranja. In dubio pro PSD.