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1. Termina hoje o prazo que o Governo deu a milhões de proprietários para fazerem a limpeza dos seus terrenos e, assim, protegerem casas e aldeias do fogo que há de vir. Muito poucos poderão dizer que foram apanhados de surpresa. Esgotadas as campanhas de sensibilização, até o Fisco e a sua linguagem ameaçadora foram convocados. Ainda assim, o assunto não fica arrumado. Anos de inércia e desleixo não se ultrapassam do pé para a mão. E a tarefa passa agora para as mãos das autarquias, que terão de substituir os proprietários que não cumpriram a sua parte. Mas, quando o prazo termina, o que fazer a quem prevaricou? A GNR começa a passar multas a torto e a direito, como manda a lei? Ou beneficia-se o infrator, com prejuízo para quem cumpriu as suas obrigações? Seja qual for a via escolhida, nesta matéria o Governo ficará sempre a perder, porque haverá sempre protestos. Não é preço, no entanto, que tire o sono aos cidadãos. O que interessa não é a saúde política do Governo, é que o país não fique a perder. Ora, mesmo que fiquem algumas zonas por limpar, mesmo que seja certo que o mato voltará a crescer, mesmo que em alguns lugares se tenham cortado as árvores erradas, o país já ganhou alguma coisa. Porque estará mais bem preparado do que no ano anterior. O ano, recorde-se, em que o fogo destruiu 442 mil hectares (100 vezes a área do município do Porto). E sobretudo o ano em que morreram mais de uma centena de pessoas.
2. O país futebolístico está cheio de incendiários. A indigência mental de muitos dirigentes, a estupidez tonitruante da maioria dos comentadores e a violência de demasiados adeptos não são fenómenos novos, mas têm tendência para se agravar. Pelo menos tem sido assim nesta última época futebolística. Um agravamento a que não serão alheios factos desportivos - ainda há três candidatos ao título de campeão; há apenas uma vaga garantida na liga milionária - e uma série de escândalos judiciais que, apesar de agora afetarem sobremaneira o Benfica, relembram conspirações e corrupções passadas. A generalização pode parecer injusta noutras áreas, mas não no futebol profissional: está por nascer o primeiro português informado e lúcido que esteja disponível para pôr as mãos no fogo por qualquer dirigente, incluindo da sua cor. Mesmo assim, é surpreendente que, como ontem se noticiava no JN, 70% dos adeptos considerem que não há verdade desportiva no futebol português. Se é assim, porque vão aos estádios? Porque aceitam ser a tropa de choque dos dirigentes? Porque garantem audiências a debates imbecis? O sociólogo João Dias Coelho deu a resposta: falta de cultura desportiva; só interessa ganhar. Os incendiários têm o futuro garantido.
* EDITOR EXECUTIVO