Incentivos à requalificação são urgentes
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Em Portugal, nas últimas décadas, o número de diplomados com ensino superior cresceu e aproximou-se da média da OCDE. Mas, de acordo com o Education at a Glance 2025, continuamos abaixo da média europeia na taxa de qualificação superior. A nossa falha é na requalificação de adultos e na aprendizagem ao longo da vida.
Segundo o Talent Shortage Survey 2025, 84% das empresas em Portugal têm dificuldade em recrutar talento - o terceiro maior valor entre os países que constam do estudo. Esta escassez é hoje um dos principais bloqueios ao crescimento.
Uma década depois da criação dos cursos técnicos superiores profissionais (CTeSP), e apesar do crescimento registado, estes ainda não constituem uma via de qualificação tão divulgada como noutros países. Mas os CTeSP e as microcredenciais oferecem respostas relevantes, flexíveis e adaptadas às necessidades de requalificação.
O desconhecimento ou a falta de motivação dos trabalhadores e das empresas quanto à formação ao longo da vida tem sido um obstáculo.
Uma solução seria a criação de incentivos que mobilizem adultos e empresas para a requalificação e reforcem a visibilidade destas vias de formação. O próprio Ministério da Educação, Ciência e Inovação reconhece que Portugal precisa de se aproximar dos níveis europeus de requalificação.
Para o conseguir, poderia considerar-se a criação de benefícios fiscais, tanto para quem investe na sua própria formação, como para as empresas que apostem na requalificação dos seus trabalhadores. A possibilidade de deduzir nos impostos os gastos com a formação (e.g., propinas) é um mecanismo explorado em vários países, com impacto positivo na procura destas formações.
Requalificar não é apenas desejável, é estratégico. Num contexto de inverno demográfico, transformação tecnológica e escassez de talento, não podemos continuar a perder competitividade por desalinhamento de qualificações. O Ensino Superior está preparado para responder - a Universidade de Aveiro tem investido em microcredenciais e outras soluções de requalificação desde 2019 -, mas é fundamental criar condições para que mais trabalhadores e empresas assumam a requalificação como prioridade.
Investir nisto é investir no crescimento do país. É garantir que Portugal tem o talento de que precisa para inovar, competir e prosperar. Com os incentivos certos, muitos mais poderão acompanhar a transformação.
Vale a pena pensar nisso.

