Tolentino de Mendonça recordou este mês que "no meio do caos, a beleza pode existir" - e eu espanto-me com essa segurança, com essa forma de vislumbrar na incerteza a possibilidade de melhor.
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´É provavelmente porque não sou capaz de acreditar, não sou homem para crer numa força maior do que o amor que me une aos meus.
É grande essa força, mesmo que a incerteza me moa, que rasgue umas feridas, e sobre elas vou construindo a torre de onde olho por eles e os seguro. As feridas endurecem e dão consistência a esta obra que nunca acabará. Os meus estão em mim, na minha mão, e eu neles.
"Cada um de nós traz dentro de si (...) palavras que era importante agora trazer à superfície," escreveu também Tolentino e eu espanto-me de novo - as palavras são o que nos vale, quando tudo o resto falha, e pudera eu saber usá-las para dominar o futuro. É este o momento dos poetas e dos romancistas, diz Tolentino, são eles que melhor vão contar esta história maldita. Socorro-me de Ruy Belo e agarro-me a isto com a outra mão: "Não temas porque tudo recomeça/ Nada se perde por mais que aconteça/ uma vez que tudo já se perdeu".