<b>1.</b> Que não restem dúvidas: o bullying a que Greta Thunberg tem sido sujeita por parte de alguns políticos e comentadores é repelente. Já havia exemplos a nível internacional, mas somaram-se nos últimos dias algumas excitações caseiras, com a passagem da ativista de 16 anos por Lisboa.
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Gente que não perde uma oportunidade de cuspir uma grosseria que garanta "likes" e partilhas. Não são os únicos, no entanto, que tentam brilhar encavalitados na fama da miúda sueca. Foi igualmente deprimente o espetáculo montado à volta das docas de Santo Amaro. Começando pelo presidente da República, que esteve sem estar, passando pelo ministro do Ambiente e a carta parola que a destinatária não leu, para acabar na claque de deputados, da Esquerda à Direita, que foi prestar vassalagem e, já agora, mandar um bitaite na televisão. Greta tornou-se de facto uma estrela pop: tem tantos detratores invejosos como "groupies" histéricos.
2. Há uns dias, apareceu-me na montra do Facebook a história de Dorsen, um puto congolês de oito anos, que trabalha nas minas de cobalto. A reportagem da Sky foi publicada em fevereiro de 2017, mas é intemporal. Dorsen é uma das 40 mil crianças que garantem o funcionamento das baterias dos nossos telemóveis e carros elétricos. O Congo tem 60% das reservas mundiais e milhares de minas mais ou menos clandestinas. Os jornalistas viram Dorsen a trabalhar descalço, sob ameaças físicas, em minas com túneis escavados à mão. Em dois dias de trabalho, o pequeno não juntara o suficiente para comer. Disse Greta Thunberg, também há uns dias, em Nova Iorque, que os políticos lhe roubaram os sonhos e a infância. Tenho alguma simpatia pela miúda. Mas não me esqueço que ela tem apenas 16 anos. Com o tempo, alguém lhe contará uma história como a do Dorsen e ela perceberá o que é na verdade o roubo dos sonhos e da infância.
*Chefe de Redação