Não tem ocupado o topo dos alinhamentos, mas a inflação está a preocupar bastante os decisores políticos. À escala global. E a ser sentida todos os dias por cada um de nós. Percebemos há muito que os preços (dos alimentos, da energia, dos transportes...) estão a atingir níveis inéditos. E os salários continuam praticamente inalterados. Não será fácil este nosso regresso à normalidade.
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Encher um depósito de combustível ou um carrinho de compras custa hoje muito mais dinheiro do que há escassos meses. Graças às temperaturas demasiado amenas para esta altura do ano, não sentimos muito o custo da energia, mas os países mais frios estão a experimentar severas dificuldades para manter as suas habitações quentes. Porque isso implica uma fatura mensal mais difícil de pagar.
Ontem, dados do Instituto Nacional de Estatística referentes a Portugal refletiam uma inflação de 3,3 por cento em janeiro. Estamos abaixo da média europeia. Todavia, as previsões não são claras, porque ninguém consegue antecipar as perturbações nas cadeias logísticas, a evolução do setor do gás e o tempo que levará a transformar esta pandemia numa endemia.
Poder-se-ia supor que um aumento dos salários mitigaria o problema, mas isso constitui uma séria dor de cabeça para os governos que sempre procuram amenizar o embate com o patronato e que temem o risco de uma perigosa espiral inflacionária. Por enquanto, os políticos têm optado por militar junto do setor energético. Em Itália, o primeiro-ministro Mario Draghi tem reclamado uma partilha dos benefícios por parte daqueles que tanto têm ganho com o aumento do preço do gás. A França prometeu limitar em 4 por cento o aumento da fatura de eletricidade.
Ninguém sabe por quanto tempo este problema se prolongará. Ainda assim, existem dois fatores que poderão ser a chave para um 2022 mais tranquilo. A primeira é a diluição da pandemia e, com ela, o reequilíbrio de um sistema económico globalizado muito dependente da mobilidade dos bens, das pessoas e dos capitais. A segunda é a neutralização da crise junto à Ucrânia, que está a inflacionar os preços da energia e a lançar um quadro de incerteza que cria desconfiança na Europa e também nos Estados Unidos. Para a pandemia, os políticos contaram com a poderosa arma da ciência. Para a Rússia, tenhamos esperança na arma da diplomacia. Um conflito armado às portas do Velho Continente é tudo aquilo que o Mundo não precisa.
Professora Associada com agregação da UMinho