Não vale a pena verter lágrimas de crocodilo. Ainda bem que o Jornal da TVI acabou. O que se lamenta é que tenha sido de forma tão destrambelhada.
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1 - Havia uma regra que dizia que os jornalistas não são notícia. Aprendia-se, há alguns anos, quando se começava a trabalhar numa Redacção. Mas isso foi antes da televisão ter transformado o jornalismo num espectáculo de entretenimento. Agora, o bom jornalista é o jornalista que é notícia. É o jornalista que aparece nas festas e mostra o seu lado bonito e divertido; o jornalista que vai à casa que acolhe meninos com sida e assim demonstra a solidariedade com os que sofrem; o jornalista que partilha com os portugueses as paixões e desamores que o perseguem e assim testemunha a sua profundidade emocional. Sempre acompanhado por câmaras de televisão e outros jornalistas, para que todos possamos testemunhar momentos tão importantes para a vida da Nação.
Sendo este o panorama - quem ainda não conquistou este estatuto sonha com o dia em que o conseguirá -, não pode surpreender ninguém que para muitos jornalistas o supérfluo prevaleça sobre os factos. Um notícia será importante e digna de atenção se for espectacular, não se for verdadeira. E na informação espectáculo ninguém bate a TVI. E ainda menos o Jornal Nacional de Manuela Moura Guedes. Uma peça sobre o Freeport, ou outro Freeport qualquer, poderia conter apenas um conjunto de informações recicladas, poderia ser apenas baseado num mail anónimo, poderia ser apenas uma soma de insinuações grosseiras e manipuladas, mas seria sempre um espectáculo.
Não vale a pena verter lágrimas de crocodilo. Ainda bem que aquilo acabou. O que se lamenta é que tenha sido de forma tão destrambelhada e em plena campanha eleitoral. Sendo que há também a suspeita de que tenha sido uma decisão ilegal. Porque uma administração não pode interferir em conteúdos editoriais. Ainda que fosse o primeiro-ministro a pedir. Se o que os administradores da TVI pretendiam era, também eles, fazer parte do espectáculo da informação, conseguiram. Embora ainda falte saber se gostam de festas, qual a instituição de solidariedade social preferida e de quem se divorciaram.
2 - Não fosse Manuela Ferreira Leite líder do PSD e poderia muito bem votar em Francisco Louçã, líder do Bloco de Esquerda. É uma das caricaturas que resultam do frente a frente de ontem à noite, tal foi a quantidade de vezes que a líder do PSD, caindo nas armadilhas do líder do BE, lhe reconheceu razão. Outra evidência é a de que Manuela Ferreira Leite foi muitas vezes obrigada a concordar com Francisco Louçã, mas não houve vice-versa. O que diz bem da capacidade de um e de outro no debate político.
Impressionante, sobretudo, o facto de Louçã ter conseguido que Ferreira Leite se manifestasse "solidária" com a hipótese de nacionalizar a EDP e a Galp... assim que resolvesse o problema das pequenas e médias empresas. Louçã sorria, sarcástico, enquanto Ferreira Leite se ia enredando nas sua própria argumentação. E até se deu ao luxo de soltar um "ainda bem" quando, finalmente, Ferreira Leite esclareceu que estavam em desacordo na área da Saúde. Prevê-se o pior para a líder do PSD, sobretudo quando for a vez de enfrentar José Sócrates.