<p>Alguns contratos de fornecimento de armamento e equipamento militar, ajustados na última década, continuam a mostrar-se ruinosos para o Estado português. E colocam as forças armadas sempre numa posição de ânsia. Os sectores operacionais nunca sabem se acabam por receber, ou não, material que é já só uma espécie de mínimo. Isto é, que corresponde à mera substituição de um parque obsoleto. Deve assim qualquer Executivo de bom nome denunciar pactos leoninos, ou produto de reserva mental, e não tolerar incumprimentos.</p>
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Diz-se isto num momento em que Portugal, no seio da União Europeia, da CPLP, da OTAN e da ONU, será cada vez mais solicitado para missões de defesa e segurança. As organizações em causa precisam de unidades militares certificadas, com experiência e boa folha de desempenho, e este rectângulo insular acaba sempre por surgir nas contas dos planeadores. Claro que, de barato, e para que fique barato, pode qualquer estado decidir desembaraçar-se das suas forças armadas, e ficar equipado apenas com polícias. Historicamente, alguém pagará pela opção, mas essas são outras contas. O que não se pode é manter forças armadas de ficção, às quais se cometem mais missões e responsabilidades, mas com cada vez menos meios.
Um dos elementos essenciais de qualquer organização militar, com dimensão internacional, é um sistema de informações com três níveis de competência e âmbito: de campo de batalha, táctico e estratégico. A recolha de informações de combate faz sentido para uma unidade destacada, em terreno hostil ou problemático, mas entrosa-se num esquema mais vasto de produção e análise de dados. Este pode ficar a cargo de uma estrutura estrangeira, mas a prudência soberana ensina que é preferível um organismo nacional autónomo, ou a presença celular portuguesa na dita macro-estrutura.
Quanto a isto, nenhum detalhe público deve ser fornecido, para além da comunicação a quem precisa de a conhecer. Em cerca de duas décadas de operações de apoio à paz, as forças armadas já dispuseram, no terreno, de muitas equipas (ou oficiais destacados) de intelligence, sem que tal fosse notícia. Não precisa de o ser.
Mas não vale porém a pena chorar sobre leite derramado, nem fazer tempestades num copo de água.
Imaginemos assim que um ministro responsável não falou sobre isto, apesar de existir.