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Sinto o país num compasso de espera. Como se estivéssemos todos a meio de uma viagem na montanha-russa, bruscamente parados no topo de uma subida, interrompidos na gargalhada nervosa.
Não é que o PIB vá descer, o desemprego subir, o turismo desaparecer ou a dívida derrapar. Está tudo ali como antes ... mas já não é a mesma coisa.
Pedrógão, sobretudo Pedrógão, mas também este roubo de Tancos, voltaram a pôr-nos face a face com um Estado que não é capaz de nos proteger. Não que não o soubéssemos, afinal todos teremos nisto a nossa quota-parte de responsabilidade, mas porque estávamos compreensivelmente aliviados com uns tantos progressos, importantes, mas não estruturais.
A pressão faz-se sentir pesada sobre aqueles que têm a responsabilidade de nos governar ou de nos representar.
E as válvulas de escape não estão a ser acionadas como deviam.
Tenho para mim que seria melhor termos uma assunção nítida de responsabilidades.
Problemas deste calibre precisam de um reset para que possamos acreditar que vai haver energia para fazer diferente, para corrigir, para melhorar.
Ou seja, por uma questão de princípio, a senhora Ministra da Administração Interna, e o senhor Ministro da Defesa Nacional dever-se-iam ter já demitido. Sabemos todos que nenhum dos dois tem culpa direta em nenhum dos graves acontecimentos de Pedrógão ou Tancos. Mas sabemos também que a sua tutela não os evitou. Esta quebra de confiança é irreparável, tal como a desconfiança gerada pela continuidade impávida em funções.
Também não ajuda a espécie de obsessão pela normalidade exibida pelo senhor primeiro-ministro ou pelos afetos praticada pelo sr. presidente da República.
Franzimos o sobrolho, perplexos, à primeira e desvalorizamos a reação festiva à segunda. Estão errados? Fazem mal? Não. Mas já não é a mesma coisa!
Não fora a tragédia de Pedrógão e o roubo do arsenal de Tancos, e estaríamos todos a discutir as autárquicas e o orçamento. Em modo de silly season.
Pergunto-me a esta altura se estes temas servirão de tapete para debaixo do qual se varrerão os assuntos difíceis que nos paralisam por estes dias ou se, como seria melhor, haverá clareza de espírito e determinação para corrigir o que há a corrigir, no plano ético, com a humildade de quem sabe assumir e a energia de quem sabe fazer.
Por uma questão de princípio, a senhora Ministra da Administração Interna e o senhor Ministro da Defesa Nacional dever-se-iam ter já demitido.
* ANALISTA FINANCEIRA