Os insultos nas redes sociais dirigidos a figuras públicas já não surpreendem ninguém, não são novidade. Há, como sabemos, um certo prazer em injuriar só porque é possível. E só é possível porque é permitido.
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Não há consequências. Em prol dos negócios, fecha-se os olhos. Em prol do entretenimento e ego, compactua-se com o pior, encolhe-se os ombros ao que é escrito e continua-se, de clique em clique, a colocar sorrisos e abracinhos virtuais. As redes sociais abriram o Mundo e encurtaram distâncias. Obrigado, por isso. Mas também exploraram até à epiderme o pior de cada um dos seus clientes. É isto mesmo que o Facebook está a fazer: aceitar o insulto gratuito e ameaças de morte para gerar interações.
Nas orientações transmitidas aos moderadores da rede, divulgadas pelo jornal "The Guardian", o Facebook revela duas espécies de abuso e de assédio: os que são cometidos contra as celebridades e os que são dirigidos a utilizadores privados. "Conteúdos que tenham o objetivo de denegrir ou envergonhar, incluindo alegações sobre a atividade sexual de alguém", devem ser banidos. Note-se, se a vítima não for uma pessoa conhecida. As regras mudam quando a curadoria recai sobre personalidades públicas. Neste caso, são consentidas declarações abusivas, incluindo apelos à sua morte, para "permitir a discussão, o que inclui frequentemente comentários críticos sobre as personalidades nas notícias". Basicamente, para admitir respostas, likes e partilhas. Para gerar alcance. Lucro.
Mas o Facebook não distingue apenas famosos e povo. Também diferencia países e adequa a sua política às características de cada um. Assim, para conseguir mover-se em regimes tiranos admite elogios a assassinatos, a milícias violentas e a massacres.
Os últimos anos têm sido marcados por uma série de escândalos envolvendo o Facebook. Este será provavelmente mais um, que a curta memória coletiva fará esquecer. Não basta, portanto, que os Governos queiram enfrentar os desafios colocados pela economia das plataformas digitais no domínio da fiscalidade. É preciso regulamentar com seriedade e sem benevolências para que, no mínimo, qualquer ameaça de morte seja levada a sério.
*Diretor-adjunto