O planeta vive a tempos muito diferentes. Em Gaza, a sobrevivência é um cobertor seco e um prato cheio, em Portugal, acompanhamento psicológico. E, na era dos algoritmos, teremos de insistir nesta discussão, para lá do dia de Natal. Nem todas as mesas vão estar fartas hoje, nem todas vão ter todos os lugares ocupados. Têm chegado às redes sociais e às redações apelos cada vez mais frequentes por pessoas desaparecidas. Aqui e ali, ouvimos que o António "fritou", ou que a Maria "entrou em burnout". As prioridades de uma sociedade são sempre fruto das circunstâncias que a cercam, da guerra, às ameaças internacionais ou aos desafios inesperados na saúde (como aconteceu na pandemia), mas não tenho dúvidas que a saúde mental tenha de ser uma delas. Os chocantes recentes casos de violência, de surtos psicóticos, bem demonstram a dimensão desse desafio nacional. E, apesar de vivermos num país altamente envelhecido, os problemas mentais não se ficam pelos cabelos grisalhos. Metade dos jovens europeus reporta ausência de resposta ao nível da saúde mental, dados da OCDE. A Organização Mundial de Saúde, por sua vez, aponta para que um em cada sete europeus com menos de 20 anos tenha uma perturbação de saúde mental. Na última década e meia, o valor subiu um terço. Os jovens recorrem cada vez mais a chatbots de inteligência artificial para dissipar dúvidas, sentir-se acompanhados e pedir aconselhamento em áreas sensíveis. Utilizadores que se ficam a sentir ainda mais angustiados, com maior propensão para a psicose e a mania. Mas que precisam de apoio comunitário, de aconselhamento especializado, nas escolas, nos centros de saúde. E abraços, refeições em conjunto, como haverá hoje em tantas casas, e tempo para conversar, longe dessa ditadura omnipresente da internet.
Leitura: 2 min

