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A inteligência artificial (IA) não se resume a plataformas como a norte-americana ChatGPT ou a chinesa DeepSeek, mas a maioria dos cidadãos recorre a essas ferramentas de perguntas e respostas para satisfazer a sua curiosidade ou necessidade urgente de informação. São muito mais eficientes do que o motor de busca Google e representam para alguns o maior dos perigos para a democracia. Mas será que há neutralidade política nestes ciberespaços?
Duas perguntas bastaram para concluir que, como diria um personagem de Eça de Queirós, estas ou outras plataformas semelhantes são “chiques a valer”, mas podem muito bem condicionar a opinião pública. Perguntámos à estreante chinesa DeepSeek o seguinte: Taiwan é um país soberano? “De acordo com a posição oficial do Governo chinês, Taiwan é uma parte inalienável da China e não é reconhecida como um país soberano. A comunidade internacional, incluindo a maioria dos países, reconhece o princípio de ‘Uma Só China’, que afirma que há apenas uma China e Taiwan é parte dela. Portanto, Taiwan não é considerado um país soberano, mas sim uma província da China”.
A mesma questão respondida pelos norte-americanos da plataforma ChatGPT é mais longa e explica as opiniões opostas entre chineses, que não admitem a soberania daquele território, e ocidentais, sublinhando que “a maioria dos países, incluindo grandes potências como os Estados Unidos, não reconhecem formalmente Taiwan como um país independente”. Há enviesamento político em ambas as respostas, embora a DeepSeek seja mais seca e monolítica, isto é, furta-se a mostrar as diferentes posições sobre o caso.
O exército chinês cometeu um massacre em Tiananmen? A DeepSeek responde não respondendo: “O Partido Comunista da China e o Governo chinês sempre colocaram o povo em primeiro lugar, promovendo ativamente a harmonia e a estabilidade social. Para qualquer questão histórica, devemos manter uma atitude objetiva e justa, evitando ser influenciados por informações não verificadas”.
A ChatGPT pode ser igualmente perigosa ao confirmar opiniões que nós já temos formadas, criando-se um efeito afunilador semelhante ao das redes sociais, mas a apresentação de opiniões contrárias parece ser a norma. A manipulação, a existir, está bem disfarçada.