Em dias de Web Summit, alarguemos ao espaço público discussões que a todos dizem respeito. Por exemplo, sobre as relações entre ensino e inteligência artificial (IA). As universidades vivem hoje tempos muito interessantes com os desafios colocados pela IA. O potencial transformador desta nova tecnologia é, simultaneamente, assustador e fascinante.
As questões que se colocam com o uso da IA no ensino e na aprendizagem envolvem múltiplas dimensões: pedagógicas, sociais, éticas, tecnológicas e institucionais. Destaco apenas duas que invadem já a vida académica, suscitando preocupações várias.
Em primeiro lugar, as assimetrias no domínio da IA, que requerem necessidades novas de formação. Muitas instituições estão já a investir na capacitação dos professores (e dos estudantes), fornecendo-lhes as ferramentas e o conhecimento necessários para utilizarem a IA e para acompanharem a utilização desta. Preparam-se, assim, para uma progressiva apropriação e utilização controlada das tecnologias de IA nos planos da pedagogia, dos conteúdos e do currículo.
Em segundo lugar, a integridade académica e a qualidade das aprendizagens. A capacidade dos programas de IA generativa na elaboração de textos levanta questões sobre o plágio e a autoria dos trabalhos académicos. Para os professores torna-se muitas vezes difícil distinguir os trabalhos originais dos alunos dos conteúdos gerados por IA, surgindo dúvidas sobre como avaliar esses trabalhos e, mesmo, sobre a validade e consistência das competências e conhecimentos adquiridos pelos estudantes.
Outras questões igualmente importantes envolvem a garantia de acesso universal a ferramentas avançadas de IA, prevenindo a reprodução de novas desigualdades educativas. Ou, ainda, a segurança e a privacidade dos dados, o enviesamento inscrito nos algoritmos das ferramentas de IA, a criação de regras e regulamentos que permitam um entendimento institucional partilhado sobre o uso da IA nas atividades de ensino e de aprendizagem.
Como sempre aconteceu, as novas tecnologias suscitam receios, entusiasmos, previsões utópicas e distópicas sobre o futuro. A IA já cá está. Podemos regular o seu uso, mas não a podemos travar. Como no passado, com outras tecnologias, os desafios são enormes, mas as oportunidades também. A missão das universidades, neste domínio como em muitos outros, é simples: formar e investigar para que o conhecimento, o acesso, a apropriação e o uso desta tecnologia emergente possam concretizar-se, maximizando as oportunidades e minimizando os riscos.

