O Governo anunciou uma mudança no programa de obras do metro do Porto, substituindo a linha da Boavista por uma servindo a Pasteleira e o Campo Alegre. Não sou especialista em transportes. Como cidadão, porém, as questões da mobilidade não me deixam indiferente. Considero que o metro foi a obra que mais marcou o Grande Porto nos quase 40 anos que cá vivo. Confesso que quando ouvi falar da linha da Boavista me interroguei se a alternativa agora proposta não seria melhor. Como não sabia, perguntei. Deram-me argumentos em termos de custos, de tempo de construção, de volume de passageiros e outros, mais técnicos. No seu conjunto, desautorizavam a minha opinião, feita apenas de intuição. Por isso, aceitei a solução. A julgar pela actual reviravolta, os estudos não estariam completos ou surgiram novos dados. Não sei se o assunto está encerrado e percebo que quem tinha outra opinião queira, e deva, ser esclarecido. No caso, reprovo a forma como, mais uma vez, o ministro Mário Lino tratou do assunto, hostilizando, de forma gratuita, os autarcas do PSD que integram a administração da Metro do Porto. E desilude-me o horizonte para a concretização do projecto, um prazo tão longo que legitima a dúvida se não estaremos perante a versão portuense das calendas. Nisso estou com Rui Rio. Mas incomoda-me a falta de elevação da sua resposta, confundindo fundo e forma, não hesitando em tentar reduzir um gestor com os créditos de Ricardo Fonseca a mais um boy político. Seria necessário ter ido tão longe? A questão crítica não é saber qual a alternativa que melhor serve os cidadãos? E, sobre isso, tem Rui Rio certezas absolutas? Não é aquele interesse que os políticos devem defender?
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Menos relevo teve a notícia do "levantamento" popular contra as alterações introduzidas na Av. Serpa Pinto, em Matosinhos. Quem, como eu, lá passa diariamente sabe o caos que enfrenta quem circula naquela rua. É frequente haver quatro filas de carros estacionados em paralelo. A Câmara Municipal resolveu disciplinar o trânsito recorrendo a uma solução hoje habitual: estreitar a via, de modo a impedir o estacionamento selvagem. Pareceu-me uma solução razoável que salvaguarda alguma flexibilidade, recorrendo à pintura de zonas no pavimento e não à criação de barreiras inamovíveis. Pois bem, a solução incomodou os comerciantes da zona, agora impedidos de estacionar quando e onde lhes apetece. Não sei se querem o "far-west" anterior ou se têm uma alternativa. Sei é que naquela rua passam milhares de viaturas por dia e que o congestionamento custa milhões de euros em combustível, poluição e tempo perdido. Para os clientes dos restaurantes, a solução actual nada alterou. Os clientes das lojas, esses não têm o direito de estacionar no meio da rua. Haverá que reservar espaços para as cargas e descargas, não forçosamente à porta de cada loja, o que não sucede em nenhum lugar civilizado do Mundo. Conciliar o interesse dos lojistas com os da comunidade é uma equação de difícil solução colocada ao presidente da Câmara. Como este disse, o imediatismo e a intuição nem sempre estão certos.
Para além disso, neste, como noutros casos, os interesses são múltiplos e variados, indo muito para além dos nossos. Compreender isto é meio caminho andado para aceitarmos a mudança. E evoluirmos.