A expressão "doce como um pastel de nata" foi usada pela revista "The Economist" para descrever o bom desempenho económico de Portugal, resultado da combinação do crescimento do PIB acima da média europeia, inflação controlada e valorização do mercado acionista.
O turismo e os novos residentes estrangeiros com maior capacidade financeira foram decisivos para impulsionar a procura de investimento. Apesar disso, o primeiro-ministro reconhece o desafio de transformar os bons resultados macroeconómicos na melhoria de salários e de condições de vida.
A doçura da atual conjuntura contrasta com a amargura de um país cada vez mais assimétrico. O alerta mais recente vem da única distribuidora nacional de imprensa, que admite ajustar rotas em oito distritos do Interior. A subida de custos, a quebra de vendas e a redução da receita comprometem a continuidade da distribuição de jornais nessas regiões.
A confirmar-se, parte significativa do território ficaria privada de acesso à imprensa diária, passando a depender de canais televisivos e plataformas digitais. A exclusão informativa atinge sobretudo populações envelhecidas, com menor literacia digital, agravando o esvaziamento populacional que há décadas fragiliza o Interior.
O país assiste, assim, a um novo tipo de centralismo - o digital - que reforça o sentimento de abandono nas regiões afastadas dos grandes centros urbanos. O distanciamento face às fontes de informação e decisão política são propícios à expansão de discursos populistas, fenómeno visível em Portugal e a nível global.
Um país antigo, desafios persistentes: durante nove séculos o país preserva a coesão cultural e identitária; contudo, o imobilismo político e a ausência de estratégias para o território têm ampliado as desigualdades territoriais.
As políticas públicas têm, de forma constante, falhado em inverter o declínio de parte do país. Ao Interior cabe-lhe sempre a fava do bolo-rei.

