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A incerteza, a globalização e a inovação não são conceitos novos, sendo certo que é cada vez mais difícil trabalhar com um cenário em constante mudança. Assiste-se hoje a uma redefinição permanente das regras do jogo competitivo. Mas há um princípio que se mantém: adquirir e explorar os recursos do conhecimento de um modo sempre atual e estrategicamente eficaz. Ter a veleidade de pensar que podemos encarar o nosso futuro de forma isolada será como tentar parar o vento com as mãos. Num Mundo onde mais de dois terços de tudo o que se produz em bens e serviços é trocado a uma escala global, o desafio da internacionalização torna-se a questão chave a superar.
Uma economia globalizada tem uma lógica diferente, funcionando naturalmente com enfoque nos maiores mercados, com um efeito gravítico sobre os mais pequenos, em especial no que respeita ao investimento, com efeitos visíveis na fixação de talento e emprego qualificado. Funciona como uma espécie de doença invisível, que drena pessoas e riqueza do interior para o litoral, a partir daqui concentrando-as na capital e desta para as principais metrópoles europeias e mundiais. Este fenómeno explica parte do êxodo de recursos humanos qualificados a que temos vindo a assistir.
Daí que o desafio da internacionalização seja muito mais amplo que a já de si árdua batalha das exportações, que temos obrigatoriamente que continuar a vencer em cada dia. Passa em cada momento por perceber onde está a oportunidade que pode ajudar a criar emprego e a promover a sua qualificação. Para países com a dimensão de Portugal cada novo projeto pode sempre fazer a diferença. Mas isto obriga a uma atenção permanente e a uma lógica de disputa concorrencial que exige novas atitudes e melhores modelos organizacionais. Os valores tradicionais de bom clima e custo de mão de obra são cada vez menos argumentos plausíveis na captação de bons investimentos. Os fatores de decisão têm hoje por base a existência de recursos humanos qualificados e competitivos, a literacia linguística e digital, a capacidade em transformar conhecimento em inovação.
Temos que estar constantemente em jogo, detetando e atuando em tempo útil sobre potenciais investimentos na fonte, estejam onde estiverem. Muitos municípios perceberam já este desafio, dinamizando estruturas dedicadas que começam a apresentar resultados encorajadores. O seu sucesso é vital para o nosso futuro.
O desafio da internacionalização é muito mais amplo que a já de si árdua batalha das exportações, que temos obrigatoriamente que continuar a vencer em cada dia
PROFESSOR CATEDRÁTICO DA U. PORTO