Internacionalizar sem rede é competir às cegas
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Portugal orgulha-se de ter cada vez mais empresas exportadoras, mas exportar não é o mesmo que internacionalizar. Muitas empresas vendem para fora, apesar de continuarem dependentes do mercado interno e frágeis quando tentam entrar em geografias novas. E aqui está a questão central: internacionalizar sem rede é competir às cegas.
O nosso país tem tradição de missões empresariais e feiras internacionais, que são importantes, mas demasiadas vezes ficam pelo momento, sem continuidade. O que faz a diferença não é a presença num stand, é a capacidade de criar e manter redes de confiança. Uma PME portuguesa que chega sozinha a São Paulo, Joanesburgo ou Riade está em clara desvantagem face a concorrentes que entram com parceiros locais, referências cruzadas e cadeias de cooperação já montadas.
Outros países compreenderam isto há muito. Espanha construiu uma relação estrutural com a América Latina, apoiando empresas com instrumentos públicos e redes institucionais sólidas. A Alemanha consolidou os seus "clusters" industriais, que funcionam como redes coletivas de internacionalização. Israel transformou o seu ecossistema de startups em hubs ligados a capitais de risco e centros tecnológicos em todo o Mundo. Todos estes exemplos mostram que internacionalizar é menos sobre presença pontual e mais sobre estratégia relacional de longo prazo.
Portugal precisa de mudar a forma como encara este desafio. Apoiar a inovação tecnológica é essencial, mas apoiar a "inovação relacional" é igualmente decisivo. Isso significa dar prioridade às redes internacionais de empresários, criar incentivos à cooperação entre PME portuguesas quando atacam novos mercados e reconhecer como estratégico o capital social que se constrói em fóruns globais. Políticas públicas devem apoiar não apenas a exportação de bens, mas a inserção das nossas empresas em ecossistemas de valor internacional.
É também necessário premiar as empresas que constroem parcerias sólidas lá fora e que apostam em talento preparado para ambientes multiculturais. Internacionalizar exige escala, mas exige sobretudo ligação, pois, sem redes, os nossos empresários arriscam-se a gastar recursos preciosos em experiências isoladas que pouco acrescentam ao futuro.
Portugal tem empresários preparados e setores com qualidade reconhecida. O que falta é transformar esse potencial em presença robusta e duradoura nos mercados internacionais. E isso só se consegue com uma certeza: a internacionalização começa sempre em rede.