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Fui ver o filme “Divertidamente 2” com o meu filho e percebi que as novas emoções (que funcionam como as recém-chegadas personagens) têm estado bastante presentes no nosso quotidiano. Não sendo eu uma miúda na puberdade como Riley e na qualidade de mãe, acrescentaria a culpa como uma emoção central do meu sistema límbico, e talvez a empatia que me torna uma pessoa mais atormentada pelas preocupações, mas de resto senti-me bastante identificada.
Para quem não sabe, o primeiro filme acompanha a infância de uma criança, centrando a ação sobretudo no seu cérebro e tomando como protagonistas as primeiras emoções: alegria, tristeza, repulsa, medo e raiva. Neste segundo filme, torna-se tudo mais complexo, como é expectável no começo da adolescência, e aparecem a ansiedade, a inveja, o tédio e a vergonha, sendo que a nostalgia faz também umas aparições breves.
Ora, a mim parece-me que esta nova paleta emocional acaba por descrever (inadvertidamente), num acorde de quatro tons (e meio), o impacto que as redes sociais têm na nossa saúde mental.
Na história, a ansiedade toma o comando, com tudo de (des)funcional e de caótico que isso implica e eu duvido que haja alguém imune aos estados ansiosos neste mundo em descarrilamento. Como ter paz de espírito nesta fase hiperativa do capitalismo, diante de tanto ruído e estímulo, assistindo a guerras em direto e antecipando o pior, perante o crescimento do fascismo e do populismo?
A inveja também me parece uma emoção altamente recorrente na era das redes sociais, o FOMO e essa sensação de que toda a gente tem vidas mais interessantes, em praias em que o mar é mais azul piscina, em restaurantes chiques em que os pratos se insinuam na vertical, em concertos que parecem ser sempre os mais épicos, em casas minimalistas, com crianças que só brincam com brinquedos de madeira e vestem bege...
Quem nos dera ser o outro!
Sem esquecer o diálogo permanente entre o tédio (de assistir aos mesmos clichés, scroll após scroll, revirar os olhos com tanta frivolidade, bocejar com tanta medianidade, esmorecer diante de tanto lugar comum, num processo de dessensibilização que nos vai tornando cada vez mais blasés, cínicos e menos inspirados), misturado com a vergonha de não conseguir evitar ceder ao voyeurismo, ao consumismo e às baixas paixões que tudo isso alimenta - puro vício que devia ser regulado como o tabaco. Podendo acrescentar-se ainda a nostalgia do tempo em que não perdíamos tempo com isto.
O bom remédio está fácil de prescrever: fazer uma pausa, desinstalar o monstro, para ler mais, contemplar mais e ouvir mais o silêncio. Já dizia a Wasted Rita “Internet killed my ability to look at the stars”. Nem de propósito: estão aí as noites de verão!