O conde de Buffon gostava de dizer que "o génio não é mais do que a aptidão para a paciência". Sabia do que falava: foi a paciência (entendida aqui como insistência) que fez dele um craque em Matemática e Ciências Naturais. No século XIX, Charles Darwin conseguiu convencer a comunidade científica de que a evolução das espécies se faz através de uma seleção natural, mas chegou lá inspirado, como o próprio reconheceu, pelos trabalhos realizados, um século antes, pelo conde de Buffon.
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Para quê este introito? Para dizer que alguns dos principais atores políticos do Porto deviam escrever nos seus cadernos de apontamentos - ou, para ser mais moderno, nos seus iPhones e Ipads - a máxima do conde de Buffon. É a paciência (a resiliência, como agora se diz) que conduz ao génio, ou, pelo menos, a algo que a ele se assemelhe.
Tomemos o exemplo da desfeita coligação entre PSD e PP no Porto. Os dirigentes locais de um e outro partido perderam literalmente a paciência. E, de cabeça quente, começaram a arremessar pedras uns contra os outros. Ricardo Almeida, líder da Concelhia do PSD, e Pedro Moutinho, líder da Concelhia do PP, são as faces de uma espécie de intifada à moda do Porto. A coisa seria divertida, não se desse o caso de um e outro ainda não terem percebido que estão a falhar o objetivo: proteger, respetivamente, Luís Filipe Menezes e Rui Rio. O ódio cordial costuma dar nisto.
Ricardo Almeida não perdoa ao PP o facto de ter "condicionado ao máximo" a escolha de Menezes. Sai pedra: "A escola de [Paulo] Portas é a da traição e deslealdade". Supõe-se que Pedro Moutinho faça parte da "escola" de Portas. A pergunta é: Menezes precisa do PP para ganhar a Câmara do Porto? Se precisa, devia ter acautelado a coligação; se não precisa, por que razão permite que se prolongue este tiroteio?
Pedro Moutinho não perdoa ao PSD ter escolhido um candidato despesista, o oposto de Rui Rio, o homem de contas à moda do Porto que deixará a Câmara com os cofres compostos... e a cidade com a alma enrugada (não se pode ter tudo).
Ao assumir as dores de Rio, Pedro Moutinho cola-o, com Super Cola 3, ao patrocínio da candidatura independente que o PP do Porto procura ardentemente para disputar o eleitorado de Direita a Menezes. Que opinião terá Rui Rio sobre esta brilhante estratégia? Rio tem uma saída fácil: basta dizer que nada tem a ver com o assunto. Será uma fraca saída, porque Rio quer ter muito a ver com o assunto, dado que não lhe passa pela cabeça entregar a Menezes o seu extraordinário legado. Com essa grossa espinha na garganta ele não conseguirá viver em paz.
De modo que, pelo andar da contenda, a intifada só acabou de sair do adro. Manuel Pizarro, candidato do PS, assiste, sereno, ao espetáculo. Ele sim já percebeu o valor da aptidão para a paciência...