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Quando alguém está convencido que está na verdade e que o erro deve ser combatido, então não há espaço para o diálogo. Foi o que impediu durante séculos o diálogo inter-religioso no interior da Igreja Católica.
Felizmente, o Concílio Vaticano II conseguiu superar esse impedimento quando procurou olhar para as outras religiões com respeito e reconhecer o que nelas é "verdadeiro e santo", com a aprovação da Declaração "Nostra Aetate" sobre a Igreja e as religiões não cristãs. Fez ontem, precisamente, 60 anos.
Essa data foi assinalada no Vaticano com um evento em que, segundo a agência Ecclesia, participaram líderes e representantes do judaísmo, islamismo, hinduísmo, jainismo, sikhismo, budismo, zoroastrismo, confucionismo, taoísmo, xintoísmo e religiões tradicionais.
Foi há sessenta anos que se suprimiu a oração pelos pérfidos judeus, na Sexta-feira Santa. Eram assim classificados por terem matado Jesus. Mas mais importante do que essa subtil, ainda que significativa, mudança, foi a condenação explícita da "Nostra Aetate" de todas as "manifestações de antissemitismo".
O Concílio desafiou os católicos a esquecerem "as discórdias e ódios" do passado e a olhar para os muçulmanos com estima. É certo que, nos tempos que correm, o fundamentalismo islâmico não está a ajudar a sarar essas feridas do passado...
Em relação ao hinduísmo e ao budismo, a declaração conciliar reconhece que também essas religiões refletem "um raio da verdade que ilumina todos os homens". Encerra com a reprovação explícita de "toda e qualquer discriminação ou violência praticada por motivos de raça ou cor, condição ou religião".
Quem, hoje - ainda que se apresente como um católico fervoroso - promove narrativas xenófobas ou racistas, e as difunde pelas redes sociais, não está em comunhão com a doutrina conciliar.

