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D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda, está convencido que no "pós-pandemia a linha da frente vai transferir-se dos hospitais para as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS)". Ou seja, quando à crise sanitária suceder a crise económica, que por todos é dada como inevitável e de grande dimensão, a sociedade continuará a ter de lutar pela sobrevivência dos seus elementos mais frágeis, pela vida digna dos seus idosos, dos seus jovens, dos seus doentes.
Essa crise de rendimentos dos portugueses não vai demorar, é uma crise que já chegou! Por isso D. José considera que o "Governo deverá repensar e mudar a atitude, valorizando o setor social e solidário, garantindo condições de sustentabilidade às IPSS, que são as primeiras a garantir a salvaguarda de uma sociedade mais justa e fraterna".
Há já alguns anos que as IPSS acumulam prejuízos. Na maior parte dos casos isso não se deve a má gestão, resulta da confluência de diversos fatores adversos para as IPSS. Desde logo o aumento dos salários, uma realidade muito positiva, mas que não foi acompanhada pelo equivalente reforço das comparticipações do Estado.
O Pe. Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), referiu há dias que "o reforço de 59,2 milhões de euros, recentemente anunciado [pelo Governo], representa uma atualização de 3,5% dos contratos com as instituições de solidariedade social, que não chega para cobrir o aumento com os custos do trabalho, nomeadamente o aumento do salário mínimo nacional, que representa um acréscimo de 5,83% nas despesas".
Para além disso, fruto da crise de 2008, as IPSS viram as comparticipações dos utentes diminuir brutalmente. A maioria nem por isso deixou de lhes prestar os seus serviços, apesar da subida dos custos de bens e serviços.
Devido a estes fatores, 40% das IPSS têm chegado ao final do ano com resultados negativos. Agora, com as exigências colocadas pela Covid-19 - aquisição de máscaras, luvas e gel desinfetante em quantidades ainda mais elevadas - muitas correm o risco de insolvência se não houver uma intervenção determinada da Segurança Social.
D. José Cordeiro chama também a atenção para a necessidade de as IPSS se dotarem de colaboradores com um "perfil ajustado às necessidades". Estas instituições não podem só dar de comer ou acorrer às necessidades mais básicas das pessoas. Os seus trabalhadores, voluntários e dirigentes têm de saber alimentar o espírito, dar esperança às pessoas e dotar de uma outra humanidade as suas respostas sociais.
Estão disponíveis muitos planos e ações de formação, promovidas pelas mais diversas instituições. Na IPSS que dirijo, há alguns anos que implemento, para além de outras, a formação "Novahumanitas" [http://novahumanitas.org/site/por/index.htm]. Esta promove o desenvolvimento integral da pessoa humana - e já se registam melhorias nas nossas respostas sociais.
Não é só de dinheiro que as IPSS necessitam. É também de um forte investimento na formação profissional e humana dos seus colaboradores.
*Padre