É dito por aí que paralisar escolas em dia de exames, como a Fenprof pretende para 21 de junho, é um direito. Será. Um direito à greve, mas simultaneamente à insensibilidade irresponsável e impune, de quem diz representar professores, mas abandona premeditadamente os alunos que seria suposto dar-lhes sentido.
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Mário Nogueira não leciona há já mais de 20 anos. Talvez por isso tenha esquecido que uma escola não se esgota na docência. Guardasse memória e recordaria a ansiedade dolorosa com que tantos adolescentes perspetivam num exame, o epílogo incerto que lhes definirá o futuro. Semanas e meses de estudo e esforço, à espera do exato momento em que serão postos à prova por professores, que encaram como mestres e exemplo. Quando também por direito desejariam estabilidade e paz de espírito, receberam da Fenprof a incerteza impiedosa da ameaça de greve. Ninguém a negará legítima. Mas de entre 365 dias do ano, escolher para a fazer precisamente o dia que mais prejudicará os alunos diz absolutamente tudo. Mário Nogueira deveria corar de vergonha.
Lembra, na conduta e nas consequências, a cruzada ideológica que travou contra o ensino privado e cooperativo, em favor de uma lógica estritamente pública que, não dando alternativa aos alunos mais pobres, os relegou para a única opção que o Estado conceda, mesmo que má, problemática ou contra a vontade dos pais. Os ricos poderão sempre decidir pelo que melhor lhes convenha. Ensino público, privado ou cooperativo. À Fenprof, mais tarde, quando os resultados se impuserem ao preconceito, restará verberar, como fará, contra as melhores condições dos colégios que dirá serem desses ricos, mas antes de Mário Nogueira orientar na geringonça o Ministério da Educação, eram para todos.
É assim com os alunos, como foi com os professores que cometeram o pecado de não trabalhar para o Estado. Primeiro, a Fenprof batalhou pela decisão política que lhes suprimiu os empregos. Depois, apareceu Mário Nogueira a garantir que seria dado apoio jurídico aos que fossem despedidos, sem tão-pouco lhe ocorrer o cinismo.
A propósito; enquanto colégios com décadas de mérito e serviço encerrarão portas, mesmo sem alternativas públicas próximas ou capazes, em concelhos que têm o azar de não ser socialistas, sobrarão contratos de associação para outros, desde que simpáticos ao regime.
Em Torres Vedras, um colégio de um antigo dirigente socialista e de uma cunhada de uma responsável pelo desenho do mapa da rede escolar, que não estava na lista, passou a estar. Coincidências. Mas Mário Nogueira cala. E consente.
DEPUTADO EUROPEU