Israel, um divisor de águas
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Já tínhamos percebido, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, o fraco apego que algumas forças políticas e respetivos líderes de opinião têm pela cultura democrática ocidental. Depois de 7 de outubro, dia em que Israel foi alvo do maior ataque terrorista desde que se tornou um estado independente, o fenómeno multiplicou-se e as ambiguidades tornaram-se bastante mais evidentes.
A votação que aconteceu na Assembleia da República foi um bom exemplo: a ação do Hamas foi condenada por unanimidade, mas não faltou um ponto da discussão em que Bloco de Esquerda e PCP se mostraram contra o direito de defesa de Israel, no cumprimento dos tratados internacionais. Ou seja, o povo israelita pode ser atacado, mas não se deve defender, nem que obedeça às regras. Onde é que já tínhamos ouvido este discurso?
Aprovar o documento foi, de resto, um ato de pudor circunstancial destes dois partidos, que não expressaram o que realmente lhes vai na alma. Isso, deixaram para as oportunas manifestações de solidariedade com a Palestina, em cuja organização se empenharam, ou nas mais inanes declarações que foram sendo despejadas nas redes sociais, onde não há, naturalmente, qualquer referência à morte de 1400 cidadãos israelitas inocentes ou à captura de mais de 200 reféns.
É preciso ter a coragem de não ser ambíguo nesta matéria. Estamos perante um claro divisor de águas, entre quem defende uma organização justa e democrática da sociedade; e quem simpatiza ou tolera regimes totalitários, supressores dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Entre quem defende a existência de uma democracia consolidada, como Israel - a única em todo o Médio Oriente - com eleições regulares, tribunais independentes e imprensa livre; e ditaduras torcionárias, que impõem o fundamentalismo religioso como lei, segregam minorias e instrumentalizam a população.
Dizer isto não é dar carta-branca a Israel, a quem se exige uma resposta proporcional e humanitária, para não sacrificar mais quem já vive em sofrimento. É, acima de tudo, batermo-nos por um quadro de valores democráticos e alertarmos a comunidade internacional para as ameaças que sobre ele existem. No Médio Oriente, na Rússia e em muitas outras geografias.