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Cumpridos cinco anos de maternidade já mordi a língua muitas vezes e, em todo este atropelamento de expectativas, diante dos desafios infindáveis que a maternidade real comporta, só tenho uma certeza: as mães perfeitas são as que ainda não tiveram filhos. As que os têm (sobretudo os mais birrentos ou mais atreitos às virulências da creche) diante da imponência da realidade e da imprevisível montanha-russa do quotidiano, são seres falhos, contraditórios, cheios de dúvidas e muitas angústias.
Demasiadas vezes somos vencidas pelo cansaço e escolhemos a solução de compromisso, conscientes que não estamos capazes de assumir com firmeza a atitude pedagógica certa, porque isso, naquele momento de exaustão, exigiria uma força e uma paciência que não estamos em condições de garantir. Vai daí, toma lá a bolacha antes do jantar, ou mais um episódio da Bluey quando já passa da hora. De facto, isto de maternar é muito como a política para Bismarck - é a arte do possível.
Outra das grandes questões da maternidade prende-se com a gestão do equilíbrio entre o cumprimento de uma rotina que garante mais serenidade aos dias e alguma liberdade. Isto porque, se respeitamos à risca as horas de refeição e de sono a que as crianças estão habituadas durante a semana, muito pelo que é estabelecido no infantário, passamos um fim de semana totalmente condicionado. Temos de almoçar ao meio-dia, parar tudo para a sesta pouco depois, ir para a cama às nove da noite, sem qualquer espaço para almoçar ou jantar com calma, com a família alargada ou com os amigos, a não ser pagando “a fatura”.
Se decidimos almoçar fora, atrasando a hora da criança comer, fica birrenta e a impaciência com a espera no restaurante torna-se insuportável, por outro lado, se lhe vamos dando qualquer coisa para petiscar, o mais provável é que não almoce nada de jeito. E claro, mesmo que coma, como o almoço é na hora em que deveria estar a dormir, fica impaciente de qualquer forma porque tem sono. Sendo que o jantar tende a ser pior. Ou seja, isto de maternar passa muito pela arte de equilibrar horários de uma vida monástica, com a necessidade de conviver com outros adultos, gerindo os impactos e as consequências momento a momento.
Depois, ainda temos de lidar com as opiniões alheias, porque há sempre quem ache que a criança do outro já devia gatinhar, deixar a fralda, que não devia usar chupeta, que já era altura de falar, etc., etc., etc; com a avalancha de informação contraditória que existe na internet, em que pululam especialistas sobre tudo o que tem a ver com gravidez, parto, amamentação, introdução alimentar, sono do bebé, pedagogias várias, motricidade, etc., etc. etc; e, sobretudo, com os ritmos da criança, que parece estar sempre a entrar numa fase nova, mesmo quando ainda nem dominámos a anterior, e em contradição consigo própria, porque para umas coisas quer independência e evolui a olhos vistos e, noutras, insiste em ser o mesmo bebé dependente e marsupial do primeiro dia.