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A nossa economia arriba em quase todos os indicadores, e o aumento das receitas do turismo é, seguramente, um dos pilares mais firmes da atual fase de crescimento. O mercado turístico português cresce acima de 10% (o dobro do espanhol), e 2017 promete ser o melhor ano de sempre para o turismo nacional. A manter-se o ritmo, o contador de visitantes deverá ultrapassar os 21 milhões no final ano, comparando com 19,1 milhões do ano passado. O contributo do turismo para o PIB (à volta de 12%), assim como o impacto no emprego (mais de 40 mil novos postos de trabalho, só este ano) são razões mais que suficientes para valorizarmos o turismo como fator de criação de riqueza que deve ser cuidado e respeitado, para que os efeitos positivos sejam sustentáveis e duradouros.
A tendência é global. Nos primeiros anos deste século já viajaram mais pessoas em turismo do que em toda a segunda metade do século XX. As Nações Unidas declararam 2017 como o Ano Internacional do Turismo Sustentável, num apelo para que esta poderosa indústria, que move 1200 milhões de pessoas pelo simples prazer de viajar, ou em trabalho, contribua para um desenvolvimento mais ordenado, para a inclusão social, para o emprego e a redução da pobreza. No mesmo passo, a ONU insta todos os países a um uso eficiente dos recursos naturais, à salvaguarda do património e à proteção do ambiente.
Sim, porque o turismo também traz consigo efeitos secundários negativos. São mais evidentes na pressão sobre as infraestruturas, sobre os mercados e serviços, seja nas áreas históricas das principais cidades ou nalgumas zonas de veraneio, onde se revelam sinais de saturação, nuns casos, ou de especulação, em especial nos preços. Ouve-se por aí, amiúde, que isto está que não se aguenta. Praias e restaurantes cheios, hotéis esgotados, filas para tudo, e até acontece, nalgumas ruas do Porto ou de Lisboa, já quase não se ouvir falar português. Um fastio, pois, a não ser quando somos nós próprios os turistas.
Sim, há problemas, mas cabe à intervenção pública regular, corrigir, resolver ou mitigar os mais evidentes. E, quando o fizer, que o faça de forma coordenada e em diálogo que envolva as autoridades do turismo, autarquias, agentes económicos e cidadãos. Porque não faz sentido culparmos o turismo, muito menos os turistas. É pelo olhar dos outros que nos reconhecemos a nós mesmos. A forma como recebemos quem nos visita há de dizer de nós.
*DIRETOR