Isto tem de ser para jovens
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Há dois dias, o JN deu-nos uma panorâmica sobre o tema dos jovens “nem-nem” - aqueles que nem trabalham nem estudam - cujos dados justificam preocupação e se somam a outros problemas demográficos de ordem estrutural com impactos negativos na economia do país e da Região Norte.
De acordo com o INE, o Norte registou um aumento de 12% neste indicador, entre 2022 e 2023. Este crescimento coloca a região com cerca do dobro de jovens desocupados face à Grande Lisboa e, sobretudo, inverte a tendência de descida que se tinha vindo a verificar desde o período mais crítico da pandemia, onde chegaram a registar-se quase 90 mil jovens nestas circunstâncias.
Não estando Portugal mal colocado nesta fotografia - teve uma evolução muito positiva nos últimos dez anos e está, hoje, abaixo da média europeia - esta inversão da trajetória denuncia a persistência de alguns problemas. A causa maior é a falta de um crescimento económico robusto e consistente, que torne as empresas mais competitivas e capazes de pagar melhores salários. Por outro lado, subsistem assimetrias regionais ao nível dos rendimentos e do acesso à formação, em particular no Norte e nas regiões urbanas mais periféricas. Habitação e mobilidade parecem ser causas menos determinantes a este nível, mas que podem também contribuir para o agravamento.
Face à escassez de mão de obra e à necessidade de reforçarmos a produtividade, é fundamental integrar esta geração “desocupada” no mercado de trabalho. Para isso, é preciso reforçar os incentivos ao ensino profissional, melhorando a articulação entre entidades formadoras e empresas. Ao mesmo tempo, estimular o acesso à formação contínua e à requalificação profissional por parte de jovens licenciados. Por outro lado, tornar mais ágeis e frequentes os programas de apoio ao primeiro emprego.
A um nível mais social, também é necessário mudar a narrativa sobre jovens e trabalho. Os discursos de motivação e de sucesso instantâneo não ajudam a construir gerações efetivamente aptas a lidar com as dificuldades da vida ativa, com ambição positiva e espírito de compromisso.
Este é o caminho para deixarmos de ser uma sociedade de dependentes ou de “nem-nem”. Portugal, a sua economia e o seu futuro precisam, com urgência, de olhar para os jovens como uma prioridade.