Os madeirenses querem reeleger Jardim? Estão no seu direito. O país é que não pode continuar a pôr milhares de milhões de euros nas mãos de um político mentiroso, desosnesto e chantagista
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Abatelada de massa gasta e escondida pelo histriónico Alberto Jõao Jardim na Madeira (qualquer coisa como 1,7 mil milhões de euros, mais ou menos o que o Estado vai arrecadar com metade do nosso subsídio de Natal que não receberemos, mais ou menos o que o Estado gastará para financiar um corte de 4 pontos percentuais na Taxa Social Única) é, a bem dizer, um crime de lesa-pátria. A pátria dele, que o homem trata há três décadas como uma adjacência da democracia; e a nossa pátria, que, para sobreviver enquanto tal, está hoje obrigada a pedir aos indígenas que a compõem cortes nos orçamentos das famílias nunca antes vistos.
Ora, sendo a coisa um crime de lesa-pátria (que, a ter em conta o que está previsto na lei, valerá, quando muito, uma multa de 25 mil euros a Alberto João Jardim!), a coisa não pode ser tratada, como está a ser, usando frases de pacotilha, por mais grossa que a entoação pareça.
Diz o primeiro-ministro, secundado pelo ministro das Finanças: "É uma irregularidade muito grave". Ai sim ? Diz o líder da Oposição: "É altura de Passos Coelho dizer se mantém a confiança política" no homem. Ai é? Responde gente tão recomendável como o deputado Abreu Amorim: se fosse assim, o engenheiro Sócrates também não se podia ter recandidatado (há eleições na Madeira dentro de um mês), por ter falhado o défice. O Carlos era, por favor, capaz de repetir o argumento, para ver se conseguimos entender a comparação, ou se descobrimos que está a brincar? Diz o presidente da República: "É preciso que todos unidos façamos um esforço para que Portugal não derrape para algo parecido com a Grécia". Todos quem? Nós que estamos nas lonas e os madeirenses que, com o devido respeito, estão a beneficiar de um crime cometido pelo homem que elegem há 30 anos? Ou só nós, os "cubanos"?
O caso é claro como a água. Finalmente, chegámos à Madeira. E o que vimos combina como o que esperávamos ver. Há lá um tipo que brinca, literalmente, com os cidadãos do Continente, com as instituições do Continente, com os políticos do Continente e com os mais elementares princípios da democracia portuguesa. Um susto? Não: uma confirmação.
Donde, é manifestamente pouco e preocupante que o primeiro-ministro e, sobretudo, o presidente da República não tenham já dito o que têm que dizer: está em causa o regular funcionamento das instituições democráticas e, como tal, é necessário agir em conformidade, sob pena de esta grotesca palhaçada continuar. A complacência com Jardim será umas mais terríveis machadadas que pode dar-se no esforço de coesão e de solidariedade que nos está a ser pedido. Isso não basta para pôr, de uma vez por todas, o homem na ordem?
Os madeirenses querem reelegê-lo? Estão no seu direito. Mas devem estar cientes do custo da escolha: o país não pode continuar a entregar milhares de milhões de euros nas mãos de políticos mentirosos, desonestos e chantagistas.
