Estranho, muito estranho mesmo! O presidente da República voltou a vestir o fato de comentador domingueiro, desta feita a uma sexta-feira e em inglês, arrasou o centro-direita, colocou no Olimpo o PS de António Costa, reservou para si próprio o papel de salvador equilibrista e a pátria continuou a banhos como se o chefe de Estado não tivesse exorbitado as suas funções.
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Houve apenas uma reaçãozinha, quase estéril, de Rui Rio a querer fazer outra análise do resultado eleitoral, argumentando que 70% de abstenção mostram que em crise está todo o regime. Assunção Cristas deve ter estado em retiro espiritual e nada disse. A generalidade dos comentadores e analistas nem deu conta dos caminhos por onde entrou Marcelo. Ou se deu, preferiu ignorar.
Marcelo tinha estado na abertura da Conferência do JN, onde da parte da tarde estiveram também os líderes partidários. Num país que se olhava ao espelho (proposta do jornal) Marcelo não quis ver com que cara teriam ficado Rio e Cristas se tivesse optado por dizer no Porto o que veio dizer a Lisboa ao final do dia.
Para quem acha que Marcelo não está a intervir na vida dos partidos, explique lá por favor que eleitores se motivam para votar PSD ou CDS, depois de ouvir o presidente dizer que há "uma crise interna nos mais importantes partidos de centro-direita" e que "a oposição de Direita é fraca", sentenciando que a crise da Direita será para muitos anos.
À saída, o presidente argumentou que estava apenas a explicar o que iria condicionar a sua decisão de recandidatura. Na lógica de Marcelo, quanto mais fracos estiverem os partidos de centro-direita mais necessária será a sua presença em Belém. Nada como, pelo caminho, ajudar a criar um monte de ruínas, pelas quais possa atingir o seu objetivo e dizer ao líder do PS que ele não está sozinho no Olimpo. Costa não é absoluto porque Rebelo de Sousa não deixa. Sempre disponível para salvar este país. Rio e Cristas é que ainda não perceberam, senão já tinham arrepiado caminho. Brilhante, senhor presidente!
* JORNALISTA