Corpo do artigo
Marta Temido pode ter sido vítima de ter chegado a hora da sua vida política em que já tem mais frio que peneiras. Acontece aos melhores, neste caso especialmente às mulheres, chegarem a uma idade em que num dia menos calorento de verão, no momento de escolha da toilette para o jantar, percebem que já tiveram mais peneiras que frio.
Foi neste verão, para meu contentamento, que testemunhei uma situação destas e perante o meu espanto levei com esta explicação, que me deu de bandeja o título para esta crónica. Não sendo eu especialista em saúde (mesmo da minha, sabe Deus...) foi graças a esta inspiração que me atrevi a tratar o incontornável assunto do dia.
Os vários comentadores que já ouvi desde manhã cedo convergem na ideia de que a ministra estava fragilizada, desfasada da realidade e com falta de peso político para obrigar o ministro das Finanças a despejar mais uns milhões no Serviço Nacional de Saúde, nos cofres dos hospitais e nos bolsos de médicos e enfermeiros.
Dou de barato que, podendo sair cara a coisa, podem ter alguma razão nessas contas que fazem, embora também não falte quem me diga que mais do que mais dinheiro, o que dava jeito era mais capacidade de o gerir nestas áreas.
Voltando à vaca fria, salvo seja, mesmo que estas razões sejam todas poderosas (e também se perceba que a morte de uma grávida durante uma transferência de hospital por falta de vagas tenha sido a gota de água que fez transbordar o copo) também não são novas e julgo que há uns tempos, por causa delas, a ministra poderia ter tremido, mas não caído.
Durante o seu longo reinado no Ministério da Saúde, muitas foram as polémicas e as peripécias, agravadas por uma luta insana contra uma pandemia inédita em termos mundiais, mas em que quase conseguimos ter mais especialistas a falar que pacientes a falecer. Mas no final dessas contas Marta não tremeu e a popularidade até a alcandorou a putativa candidata à sucessão de António Costa no PS.
Não foi a realidade nua e crua que mudou. O que terá mudado é a sua própria realidade. Quando o "frio" apertou, Marta Temido temeu pela sua saúde e decidiu sair para a rua com outra vestes. E pode muito bem ter pensado que já teve mais peneiras que frio.
Podemos ter perdido uma ministra, mas ter ganho uma cama nos cuidados intensivos.
*Empresário