1.O primeiro-ministro foi esta semana à Região Oeste deixar um gordo envelope de 2,1 mil milhões de euros. Objectivo: compensar, através de investimento público e privado, os 16 municípios daquela área pela decisão de não construir ali o famigerado aeroporto da Ota.
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Os autarcas ficaram duplamente agradados. É que, além deste verdadeiro jackpot, ganharam também um tremendo elogio de José Sócrates. "Os autarcas do Oeste e da Lezíria pouparam o país àquilo que é habitual: o espectáculo das recriminações, da exposição de frustrações, do espectáculo de azedume. Desta vez isso não existiu". Bonito encómio. O Governo garante ainda que o programa assinado com os 16 municípios em causa beneficiará, directamente, meio milhão de portugueses através da promoção da competitividade da região. De facto, assim não há motivo para azedumes.
Sem querer estragar tamanha festa, ocorre perguntar: afinal, de que prejuízos falamos? Para sustentar um valor da dimensão do acordado (2,1 mil milhões de euros é uma enormidade de dinheiro), são precisos muitos, muitos projectos perdidos. O Estado tinha assumido compromissos de que espécie com a região, para agora a compensar tão generosamente? O embargo dos terrenos que estavam afectos à construção do aeroporto vale 2,1 mil milhões de euros? Não são esses os únicos prejuízos directamente contabilizáveis, por ter essa a única limitação imposta pelo Estado? O custo de oportunidade sai, neste caso, assim tão caro?
Parece mais ou menos evidente que o Governo aproveitou a oportunidade para beneficiar a Região do Oeste e das Lezírias. O que não tem mal nenhum, desde que o objectivo seja claramente assumido. Sucede que, escondendo o óbvio, o Governo esquiva-se a algumas perguntas mais ou menos óbvias. Alguns exemplos. Por que razão foi beneficiada aquela região e não outras, porventura mais necessitadas? O facto de estar perto de Lisboa influenciou a decisão? Os desejos dos 16 municípios foram satisfeitos com exemplar celeridade: por que não usa o Governo a mesma eficácia noutros casos, como o do metro do Porto, por exemplo? Não teme o Executivo que apostas como estas acentuem ainda mais as terríveis assimetrias regionais?
2. A Comissão Disciplinar da Liga decidiu multar o Benfica em 3500 euros, por causa das agressões de que foram alvo os árbitros assistentes no jogo com o F.C. Porto. É esse o preço de um apertão no pescoço a um "bandeirinha". A sanção foi determinada ao arrepio da lei aplicável ao caso, que manda sancionar o clube da casa com um jogo à porta fechada. O Governo tem obrigação de dizer alguma coisa sobre o assunto. E rapidamente. É que o assunto é grave.