O pretexto foi um livro. "Jesus e a política" revelou um eurodeputado que vai além da política, mas que através dela também se aventura nos domínios mais improváveis. Paulo Rangel não recusou o tema e teve sala cheia, facto tanto mais assinalável, quanto o pretexto esteve nas reflexões acerca do domínio imaterial da fé, em tempos crescentemente atreitos aos ditames imediatos do consumo.
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Além do autor, Jaime Gama, João Gama e o padre Anselmo Borges fizeram a apresentação. E no final, não terá havido quem tenha dado a noite por perdida.
A prioridade eleitoral assenta, justificadamente, nas próximas eleições legislativas. Mas escutar Jaime Gama, transportou-me para as presidenciais que se lhes seguirão.
Jaime Gama distingue-se na política, pela estatura que tem, a par de muito poucos. Está para o PS, como Adriano Moreira é para o CDS. Conhecendo-se-lhes a identidade doutrinária, transcendem os partidos e asseguram o respeito dos correligionários - facto natural - mas sobretudo dos adversários, que para além dos evidentes dotes oratórios, lhes reconhecem os peculiares traços de caráter, a inteligência e a profunda cultura.
Para lá de professor universitário, Jaime Gama foi quase tudo mandatado pelos votos. Deputado, coordenador e presidente de diversas comissões parlamentares, ministro da Administração Interna, ministro dos Negócios Estrangeiros e ministro de Estado. Foi presidente da Assembleia da República, tendo-me em funções, no cargo de vice-presidente. Sublinhe-se que esta nota só assume relevância pelo testemunho direto da autoridade natural, isenção e imparcialidade, com que representou todos.
Por tudo isto e mais, seria um fortíssimo candidato à presidência da República. Estranhamente, o PS vai optando pelo apoio velado a Sampaio da Nóvoa, formatado para o cargo num radicalismo feito à sua esquerda, no que equivale a uma inexplicável orfandade presidencial, particularmente ostensiva, porque óbvia a alternativa.
Jaime Gama não é, para já, candidato à Presidência da República. Não sei se será. Mas gostaria que pudesse ser.
Não manifesto a este propósito, como será natural, qualquer intenção de voto. Mas sei que a simples possibilidade valorizaria a disputa eleitoral. E vencendo ou não, seria sempre mais do que o candidato do Partido Socialista.