Decretado no início do ano, tem sido turbulento o aumento da taxa de IVA da restauração de 13 para 23%. A maioria dos analistas já enfatizou por várias vezes o negativismo de uma tão exponencial subida, obrigando a esmagar as margens de lucro dos bifes com ovo a cavalo e do bacalhau à Brás para aguentar clientes ou, então, repercutindo-se no agravamento das despesas do Estado pelo aumento de subsídios de desemprego decorrentes do fecho de milhares de estabelecimentos.
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E a estas análises soma-se ainda uma outra, própria da recessão e das restrições do consumo: a ampliação da chamada economia paralela por obra e graça da fuga aos impostos.
Um tal diagnóstico, aparentemente certo, ajuda à subida de tom das críticas e da pressão das associações empresariais ligadas à restauração. As reclamações geram um choradinho permanente. As manifestações surgem um pouco por todo o lado e parece estreitar-se a margem para deixar tudo como está....
Tornou-se moda aplaudir a resiliência dos empresários da restauração aos 23% de IVA. As palmas, no entanto, dificultam o melhor raciocínio na deteção de causas e efeitos....
Vale a pena desconfiar da possibilidade de a chinfrineira em torno do IVA da restauração ser mais emblemática do que real.
A génese dos problemas dos empresários da restauração não difere dos das sapatarias, standes de automóveis, estabelecimentos de vestuário e por aí fora: os portugueses estão de bolsos vazios, não têm dinheiro nem para mandar cantar um cego e, como tal, dispõem de um poder de consumo cada vez mais residual.
Como todos os outros setores, a restauração é vítima da falta de poder aquisitivo dos portugueses, neste caso dispondo de uma gama mais variada de opções de compra suscetíveis de cortes - e logo na zona de maiores margens de lucro: as entradas, os vinhos, as frutas e as sobremesas, por exemplo, são por norma vendidas a preços exorbitantes! E não é preciso ser bacharel em gastronomia e afins para perceber serem essas zonas alvo de menores pedidos dos clientes, encurtando assim a faturação.
Iludir um problema geral pela agitação das taxas de IVA é de todo em todo demagógico, por mais respeito que se tenha por empresários e trabalhadores da restauração.
Recuar a taxa de IVA de novo para os 13% - ou mesmo para os 6%, como alguns pedem - atenua os problemas em percentagem ínfima.
Assim como assim, estamos cá para ver se uma redução do IVA - pago pelos clientes - terá idêntica repercussão percentual na descida dos preços ou se se vai argumentar com a conversa fiada de que se trata de repor o preço justo, como se já não estivesse a ser feita a gestão através de algo pouco percetível: doses menos abonadas, retirando um jaquinzinho ou cortando o bife mais fininho....
O setor da restauração está no seu pleníssimo direito de reivindicar. Convém é não nos querer fazer passar por papalvos.