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A história remete para o desenho dos jardins como espaços centrais das cidades. Desenhar estes espaços diversifica a qualidade visual e ecológica e estimula sociabilidades, hoje tão necessárias, num tempo que insiste no individualismo solitário.
Neles refrescava-se do calor intenso no verão, brincavam as crianças enquanto os idosos jogavam cartas. Eram lugares de convívio e do usufruto de flores alinhadas que, teimosamente, desenhavam quadros vivos de múltiplas cores e cheiros. Tantos jardins ícones existiam, onde cada flor ocupava o seu espaço precioso, como filigrana de patines de cores selecionadas.
Há ainda os mais orgânicos, aqueles onde se passa tudo: palcos da vida urbana apressada, onde se lê, trabalha-se ao computador, ouve-se música, namora-se, conversa-se, faz-se piqueniques apanhando sol, ou simplesmente, observa-se a movida da cidade, sentados ou deitados na relva firme.
Mas os mesmos só cumprem a sua função quando, simultaneamente, também são o chão de corpos sem pressa nem futuro, parados entre os silêncios do ruído contínuo da vida dessa cidade.
É pois, neste mix de lugar de tudo e de nada, entre registos cosmopolitas e registos da rua lateral parada no tempo, entre sons e cheiros que respiram mundo e aquele lugar de sempre, que os jardins urbanos, pequenos lugares de proximidade, são lugares de afeto e de amor.
Que pena nestes últimos 50 anos poucos ou nenhuns jardins terem sido desenhados em Portugal.
Saibamos preservar, cuidar os que temos, e construir novos. Os jardins são cidade, são património vivo e dão vida a todos aqueles que ali, encontram a extensão da sua casa.
* Especialista de Mobilidade Urbana