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A Entrevista de Assunção Cristas ao "Público" é extraordinária. Disse a ex-ministra que teve de dar por email o OK à legislação sobre a resolução do BES, que tinha de ser aprovada pelo Conselho de Ministros. Vale a pena reproduzir: "Eu estava no início de férias e recebi um telefonema da ministra das Finanças a dizer: "Assunção, por favor vai ao teu email e dá o OK, porque isto é muito urgente, o BdP tomou esta decisão e temos de aprovar um decreto-lei." Como pode imaginar, de férias e à distância e sem conhecer os dossiers, a única coisa que podemos fazer é confiar e dizer: "Sim senhora, somos solidários, (...) damos o OK". Isto não é governar à vista, é governar sem ver.
O que não deixa de ser estranho. Vejam Paulo Núncio, que fez parte do mesmo Governo. Trabalhou como advogado para uma petrolífera venezuelana, que foi uma das empresas com maior fatia naqueles dez mil milhões de euros que saíram sem controlo para offshores. E quando teve de decidir sobre tornar ou não públicas essas transferências, olhou para os papéis, pensou bem e não teve dúvidas: escreveu um "Visto". O Governo de Passos Coelho aprovou o que não viu e diz que viu o que ficou escondido.
Em reação à entrevista, Passos avisou Cristas que o "silêncio é o melhor conselheiro". Mas o que ficou bem visível, neste país dos chicos-espertos com poder, é que em terra de cegos quem tem olho é rei.
* JORNALISTA