Terão de apresentar o registo criminal os voluntários e os trabalhadores envolvidos na organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que decorrerá em Lisboa no próximo mês de agosto. Esta medida foi sugerida pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e é um dos resultados da parceria estabelecida entre esta associação e a organização da JMJ.
Corpo do artigo
Exigir um cadastro limpo aos colaboradores da JMJ parece uma boa medida, sobretudo nestes tempos conturbados pela crise dos abusos sexuais de menores. É neste contexto, aliás, que é explicado o acolhimento dessa sugestão.
Analisando, porém, com maior profundidade a opção tomada, verifica-se que esta não se coaduna com a práxis de Jesus nem com a perspetiva evangélica da misericórdia divina. Pelo contrário, põe em causa a ação da Igreja na sua presença junto dos reclusos e na promoção da sua reintegração social.
Foi precisamente um liberto (denominação que prefiro a ex-recluso) que me chamou à atenção para esta incongruência. Mal leu na imprensa a exigência, enviou-me uma mensagem:
"Não posso deixar de manifestar a minha surpresa pelo facto de a Igreja ter vindo a público anunciar que só aceita voluntários para a Jornada da Juventude com o registo criminal limpo. Não era essa a postura de Jesus. Mas o meu compromisso é com ELE e não com a Santa Igreja. Em nada essa postura veio abalar as minhas convicções religiosas e fé no Evangelho".
De facto, Jesus não rejeitou a pecadora, nem o desonesto Zaqueu ou mesmo aquele que viria a ser seu apóstolo e evangelista, Mateus. Apesar de conhecer bem as suas histórias e os seus pecados, acolheu-os e promoveu a sua mudança de vida.
É salutar a Igreja acolher boas práticas da sociedade civil. Todavia, não o pode fazer de forma acrítica, devendo avaliá-las à luz da atuação de Jesus e dos evangelhos.
*Padre